Meu pensamento, e sentimento, contrário à Copa não é crítico,
é passional. Cheguei à conclusão, enquanto passeava com uma amiga hoje durante
a tarde enquanto ela falava empolgada de como ia torcer pelo Brasil, que meu
estado de chateação é puramente pautado no recalque. Sabe quando você é
adolescente e se apaixona pelo garoto mais bonito do colégio e ele faz pouco
caso de você? Não sabendo lidar com essa rejeição você passa a nutrir sentimentos
ruins por ele, a falar mal e chamá-lo de babaca para suas amigas e para todo
mundo que estiver disposto a te ouvir? É esse mesmo sentimento que eu sinto
agora, apesar de nunca ter me apaixonado pelo garoto mais bonito do colégio.
Quando, em 2006, o Brasil
perdeu o jogo, o qual muitos diziam, e ainda dizem, que fora vendido, eu chorei cântaros,
eu fiquei extremamente magoada, desapontada e decepcionada. Desde aquele
momento eu não consegui mais torcer pela seleção brasileira. Vê-la perder era
uma forma de nutrir sentimentos ruins e aplacar o recalque que eu sentia. Na
minha cabeça não existia a máxima: não da para ganhar sempre! Eu achava o
Brasil muito capaz e vê-lo derrotado, vergonhosamente, daquela forma me
maltratou muito.
Em 2010 eu não assisti a um jogo sequer, mas toda vez que ficava
sabendo que o Brasil tinha tomado um gol aquilo tornava legítimo minha posição
de dona da razão e me afastava do verdadeiro motivo: recalque. O Brasil perdeu
e eu, feito criança, dizia: bem pouco, bem feito. E ri, ri muito, maleficamente.
Eu ainda não o tinha perdoado.
Já em 2008 o Brasil foi aceito para sediar a Copa, eu fiquei
feliz, mas não com a possibilidade de vê-lo ganhar, e sim pelas promessas do
governo na época (legado da copa): que nosso país ia melhorar, ia ter mais metrôs, mais
mobilidade urbana, mais incentivo na educação com cursos para aprendizagem de
um idioma etc. Eu, não mais com a paixão torcedora, mas cívica, pensei:
"bom, eles não vão querer rachar nossa cara de vergonha e não cumprir com
o combinado”. E o mais legal, na minha cabecinha oca, é que a promessa, melhor
promessa nessa história toda, é que tudo ia ser feito com 90% de incentivo das
empresas privadas e somente 10% seria patrocinado pelo governo. Lembram do trem
bala que ia de Sampa ao Rio? Uaaaau! Eu vidrei naquilo.
Eis que seis anos se passaram e mais uma vez me sinto
"traída" pelo meu Brasil, pois acho que nem 10% do prometido foi
cumprido. Aliás, os 10% foi invertido para 90%, afinal hoje é nosso governo que
banca praticamente a Copa da Fifa. Inventaram legislação da Copa e esta tem por
objetivo defender os direitos dos "torcedores" estrangeiros e tentar,
minimamente, enganar as lentes jornalísticas do mundo, ainda que para isso os
moradores de rua dos centros de Salvador sejam "diasporizados" para a
BR 324 para não "fazermos" feio na Copa e mostrar o quão desumanos e
injustos, socialmente, nós somos, nosso governo é. Então para o bem da Copa, quem
representa ameaça a seu sucesso será periferizado. No caso você, eu e todos os
recalcados.
Agora, em 2014, faltando menos de 15 dias para o Brasil
entrar em campo eu ainda não consigo torcer por ele. E nem é porque eu acho que
esse dinheiro todo deveria ser investido em educação, segurança e saúde, pois
dinheiro para isso nunca faltou, o que falta nessa questão são outras coisas.
Eu tenho raiva (recalque) porque fui traída na minha paixão pelo esporte e no
meu direito de cidadã. Prometeram-me mundos e fundos e eu acreditei. Perdi os
mundos, os fundos e minha crença. É por essas e por outras, que ainda não te
perdoei e nem vou torcer por você nessa Copa, Brasil. Afinal me assumo:
recalcadaaa!
Salvador, 31 de maio de 2014.
Josane Silva Souza
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