Isso me interessa!

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Carlinhos Brow, você não representa os "negos e as negas" do Brasil.....

Ontem eu tive a péssima ideia de assistir algumas partes do programa global Encontro, onde estavam Miguel Falabella e "suas negas" falando sobre a sua mais nova criação, aliás sua cópia mal formulada: "Sexo e as negas". 

Em algum momento ao ser questionado, de forma bem solidária, pela apresentadora Fátima Bernardes sobre o "descontentamento" de alguns internautas sobre a possibilidade de o programa "Sexo e as negas" possuir cunho racista e machista, Falabella deu uma justificativa tosca, dizendo que era uma brincadeira em cima do seriado estadunidense (adjetivo meu, pois ele utilizou americano para os Estados Unidos), Sexy and City e antes tinha pensado em fazer "Sexo e as loiras", porque ele é suburbano, foi criado em Governador (deve ser Ilha do Governador - RJ) e tem vivência em comunidade porque foi vice-presidente (?) da Escola de Samba Unidos da Tijuca. Em resumo: ele acha que é uma homenagem às mulheres negras que lutam todos os dias e coisa e tal e tal e coisa.
Para ele eu digo: muito obrigada, enfia sua homenagem onde você quiser, menos na gente. Ok? 

Mas falemos de Carlinhos Brow e de sua defesa asquerosa para com a elite aproveitadora. Brow, ao ser perguntando se sexo ainda é um problema no país, ele responde às seguintes pérolas carregadas de um palavreado bonito: 
-na verdade não apenas sexo, mas neologismos e corruptelas. As pessoas confundem muito. Negas são todas as mulheres que amamos. Não tem nada a ver com tons de pele. Então: minha nega....meu nego...é o carinho...então isso é uma corruptela simples, de carinho...por quê? Todo mundo se atrai por todo mundo, mas num país miscigenado de sol todo mundo vai à praia um pouquinho buscar essa negritude, mas quando eu te chamo de nega, eu não tô te impondo um tom de pele ou uma cor qualquer tipo de preconceito. 


Sério, Brow? E quando eu era criança que ouvia: aquela nega preta do cão! Era carinho e eu não sabia? Óh! Como sou uma tontinha! Ou então quando diziam: nega fedorenta. Ou quando um fulaninho falou a um amigo que tinha uma nega gostosa no trabalho dando em cima dele, era carinho dele com a menina negra? Óooh! Como sou difícil de compreender o óbvio. Você só faltou ressuscitar Gilberto Freyre e dá a voz para ele dizer: VIVA À DEMOCRACIA RACIAL BRASILEIRA.

Ao final Falabella ainda tentou amenizar dizendo que não quer com o programa dizer que não existem médicas negras, mas que é muito mais interessante retratar os problemas daquelas mulheres de comunidade. Faça-me o favor, viu! Brow disse que o programa era muito positivo, pois há tempos estamos pedindo que essas coisas fossem retratadas na tv. Eu não pedi para ser as negas da Globo, muito menos ter minha etnia ligada diretamente ao sexo. Isso é ideia de girico de Falabella e apoiada por você, um oportunista, infelizmente. Outro despropério foram "as negas" agradecendo o bom salvador (leia-se Falabella) por ele ter eleito as negas e não as loiras para seu conto fabuloso.

E para finalizar só tenho mais algo a dizer: obrigada, Carlinhos NADA Brow, você serve muito bem à elite branca e dominante.

sábado, 13 de setembro de 2014

RACISMO NÃO TEM PERDÃO....

            Imagem circulando em rede social.

        

          Nos últimos meses pude perceber que a discussão em torno do tema racismo tomou proporções maiores, felizmente. Algumas atitudes racistas não tão veladas tem feito a sociedade refletir, questionar e afirmar posições preconceituosas e discriminatórias. Falo tudo isso, pois quero chamar atenção, especialmente, para o caso do jogador Aranha, que foi vítima de racismo por parte de alguns torcedores do Grêmio. Entre os racistas estavam a torcedora Patrícia Moreira, pelo menos dois negros e outros tantos torcedores brancos. 
          Primeiro quero dizer que algumas pessoas tentam legitimar o racismo dizendo que o próprio negro é racista com ele mesmo. Na contramão disso, eu digo que ser racista é uma condição social, pois a sociedade brasileira foi construída em cima de bases racistas, onde os brancos exploraram e exploram os negros. Então desde pequenos, negros e brancos, aprendem e reproduzem os comportamentos racistas, um como algoz, outro como vítima e às vezes algoz de si mesmo. Obviamente que para o branco manter arraigado o racismo é muito mais conveniente, pois nesse sistema as vantagens são somente para ele, portanto dizemos que o negro se aliena e assimila esses comportamentos racistas. No entanto é muito cruel justificar o racismo, em muitos momentos, porque um negro vive em sociedade e aprende a ser um indivíduo social como qualquer outro, logo reproduz o discurso racista também. Ou também justificar a escravidão porque em alguns países da África ela já existia. Quando defendemos esses discursos estamos nada mais que culpando a vítima. 
          Interessante pensar nisso com base nas palavras do ex-jogador Pelé ao dizer que o goleiro Aranha estava equivocado, que deveria deixar para lá. Este é um exemplo de alguém que se alienou socialmente, pois na cabeça dele é mais fácil deixar para lá do que colocar ordem na casa. E, de fato, é mais fácil mesmo. Você tendo a possibilidade de esquecer em vez de lutar, qual você prefere? Esquecer! Mas isso é para gente covarde, coisa que Aranha demonstrou não ser. Pelé, socialmente, nunca foi exemplo de nada para ninguém. Admiramos ele no futebol e pronto. Nada mais. Mas a função do futebol não é melhorar a desigualdade que o racismo causa, então sua posição como jogador ou ex-jogador não importa para nós, pois o que queremos é erradicar o racismo. E Pelé mais uma vez perdeu a oportunidade de ficar calado
            Além dos negros e dos brancos nos estádio dizendo a palavra macaco para o  Aranha havia também Patrícia Moreira, personagem de grande destaque nessa história que de ficcional não tem nada, pois o racismo só não existe para quem não encontrou mecanismos de enxergá-lo. Um dos motivos que Patrícia virou destaque pode ter sido porque perdeu o emprego, pois seu local de trabalho não permitia pessoas racistas, e isso eu achei muito válido. É um grande avanço já existir empresas e órgãos que não estão mais dispostos a alocar empregados com comportamentos inaceitáveis socialmente. Além disso de perder o trabalho a torcedora teve sua cara estampada em praticamente todas as mídias, dividindo opiniões, onde uns diziam que era exagero o que ela estava passando em contrapartida ao que outros diziam que era a lei contra o racismo sendo posta em vigor, finalmente. Eu concordo com esses últimos. Só discordo mesmo de atearem fogo e tacarem pedras na casa da família da moça. Pois não se resolve uma violência tão horrorosa como o racismo com outras formas de violências. É claro que ela também não precisa virar heroína por esses ataques irracionais de uma parcela de gente criminosa e sem noção. Essas pessoas não representam a luta em prol da igualdade racial. E esses ataques não lhe diminui a culpa.
            Mas logo que viu sua vida desmoronar diante do ato cometido, a acusada correu para a TV sem maquiagem, com a cara abatida e pediu perdão pelo o que fez. Sendo que nos jogos você percebe uma mulher bem penteada e minimamente maquiada. Comoveu uns, mas muitos outros não. No entanto Aranha deveria perdoar? Isso só cabe a ele decidir, mas à justiça brasileira não. Pois para o racismo não há perdão, há cumprimento de pena e isso, de verdade, espero que ela possa cumprir de acordo com as leis em vigor. E que, com isso, sirva de exemplo para outros seres irracionais, criminosos, maldosos refletirem que machucar alguém não torna o mundo melhor em nada.
            



domingo, 24 de agosto de 2014

A lição de vida que nós precisamos......

                                  https://www.youtube.com/watch?v=vpD7KRKxqfk

                                                           (trailer)


Hoje eu assisti esse maravilhoso filme queniano. É um filme baseado em uma história real. Muruge, um senhor de 85 anos, valente por natureza, resolve voltar a estudar depois do governo do Quênia-África estabelecer que a escola a partir daquele momento será para todos. Ele entende que também faz parte de todos e enfrenta uma batalha, junto com Jane, sua professora para conseguir frequentar as aulas. O problema todo é que a escola é para o primário e Muruge mesmo assim, com o apoio de Jane, frequenta as aulas rodeado de crianças. Essa história move o mundo. Além da libertação do Quênia da exploração da Inglaterra, em 1963, o filme é um soco no estômago, mas também é altamente inspirador, pois coloca a educação como mecanismo principal para que uma nação seja próspera. Sendo professor ou não, você vai amar esse filme, especialmente aqueles que trabalham com EJA ou em escolas básicas de ensino com uma estrutura educacional precária. Fiquei lembrando aqui o quanto trabalhar com EJA me humanizou e me melhorou como pessoa. Esse filme fará o mesmo por você....Viva a memória de Muruge, um grande homem, que suportou todas as torturas que um ser humano pode suportar para nos dar uma lição de vida.....
Alguns professores que me perdoem, mas as vezes tratam a desvalorização de sua classe com muito amadorismo. Sério mesmo. Não saem do discurso de que sua profissão, ou missão, como alguns já estão chamando, é importante. Que é importante todos sabem. As famílias sabem. Os governantes sabem. Nós, professores, sabemos. Até os alunos sabem. Até os bandidos sabem (vide piadas de canais do youtube). Mas parece que só nos restou achar importante. E nisso a gente não avança. Porque todas as profissões são importantes. TODAS. Só depende da perspectiva que olhemos. Mas não se forma médico sem professor! Concordo. Não se forma engenheiro sem professor! Concordo também. Mas não é fazendo da relação de classes profissionais um ringue que vamos conseguir nossa tão sonhada valorização. Nosso tão sonhado bom salário. Quantas vezes eu já ouvi de colegas que um professor ganha tão mal quanto um gari (como se um gari merecesse ser, essencialmente, desvalorizado). Oi?? Então está bom. Podemos subjugar os garis, que desempenham uma função tão importante. Como já ouvi de outros vários colegas: "Claro! Ele não tem estudo, só precisa do ensino fundamental para trabalhar e olhe lá." Está vendo por que a gente não avança? Porque nossa valorização depende de picuinhas, de graus de importância, de insensibilidades, da falta de criticidade, de reflexão e até de profissionalização (citei esse exemplo, mas tem outros). Já pensou em não aceitar aquele trabalho miserável que te pagam R$ 5,00 a hora/aula para ter em sala 35 alunos? Mas só vou aceitar enquanto não aparece coisa melhor. NÃO. Não aceite em momento nenhum. Deixe que a EMPRESA travestida de Escola fique à míngua, sem profissionais. Ah, mas começo de carreira a gente tem que ser humilde e aceitar. A gente tem que ser humilde a vida toda, independente do nosso mestrado, doutorado, pós-doc. Humilde, inclusive, quando usamos o discurso de que nossa profissão é mais importante do que a do gari. E recusar um salário de fome desse não tem nada a ver com humildade, mas com dignidade. Até porque existem empresas no mercado há mais de 15 anos por usar do início de carreira de professor. O início de carreira de cada um vai sustentar essas empresas a vida inteira. Quer fazer caridade? Faça para quem realmente precisa.

Racismo é coisa da minha cabeça.....?

 
( imagem copiada de rede social)

É, mas racismo é coisa da minha cabeça! Racismo existe porque nós negros não conseguimos esquecer o passado, é isso? Racismo só vai parar de existir quando pararmos de falar nele, assim diz o filósofo Morgan Freeman! PORRA NENHUMA! O racismo está aí, em todo canto. Um casal de jovens, uma menina negra e um rapaz branco não podem namorar, porque a moça é chamada de escrava, macaca e o escambau! Olhe esses comentários, gente! Isso é um horror, um retrocesso, uma vergonha para nossa luta diária contra o racismo. Mas é melhor racismo escancarado do que velado, pelo menos assim é mais fácil de combater, especialmente combater esses hipócritas, que ainda nos culpam quando somos vítimas! (SÉCULO XXI)

terça-feira, 10 de junho de 2014

Você me deixou igual a barco sem leme no mar aberto. E do mar eu tenho medo. E de você desejo!

domingo, 1 de junho de 2014

Não vou torcer pelo Brasil porque sou uma recalcada



Meu pensamento, e sentimento, contrário à Copa não é crítico, é passional. Cheguei à conclusão, enquanto passeava com uma amiga hoje durante a tarde enquanto ela falava empolgada de como ia torcer pelo Brasil, que meu estado de chateação é puramente pautado no recalque. Sabe quando você é adolescente e se apaixona pelo garoto mais bonito do colégio e ele faz pouco caso de você? Não sabendo lidar com essa rejeição você passa a nutrir sentimentos ruins por ele, a falar mal e chamá-lo de babaca para suas amigas e para todo mundo que estiver disposto a te ouvir? É esse mesmo sentimento que eu sinto agora, apesar de nunca ter me apaixonado pelo garoto mais bonito do colégio.
Quando, em 2006, o Brasil perdeu o jogo, o qual muitos diziam, e ainda dizem, que fora vendido, eu chorei cântaros, eu fiquei extremamente magoada, desapontada e decepcionada. Desde aquele momento eu não consegui mais torcer pela seleção brasileira. Vê-la perder era uma forma de nutrir sentimentos ruins e aplacar o recalque que eu sentia. Na minha cabeça não existia a máxima: não da para ganhar sempre! Eu achava o Brasil muito capaz e vê-lo derrotado, vergonhosamente, daquela forma me maltratou muito.
Em 2010 eu não assisti a um jogo sequer, mas toda vez que ficava sabendo que o Brasil tinha tomado um gol aquilo tornava legítimo minha posição de dona da razão e me afastava do verdadeiro motivo: recalque. O Brasil perdeu e eu, feito criança, dizia: bem pouco, bem feito. E ri, ri muito, maleficamente. Eu ainda não o tinha perdoado.
Já em 2008 o Brasil foi aceito para sediar a Copa, eu fiquei feliz, mas não com a possibilidade de vê-lo ganhar, e sim pelas promessas do governo na época (legado da copa): que nosso país ia melhorar, ia ter mais metrôs, mais mobilidade urbana, mais incentivo na educação com cursos para aprendizagem de um idioma etc. Eu, não mais com a paixão torcedora, mas cívica, pensei: "bom, eles não vão querer rachar nossa cara de vergonha e não cumprir com o combinado”. E o mais legal, na minha cabecinha oca, é que a promessa, melhor promessa nessa história toda, é que tudo ia ser feito com 90% de incentivo das empresas privadas e somente 10% seria patrocinado pelo governo. Lembram do trem bala que ia de Sampa ao Rio? Uaaaau! Eu vidrei naquilo.
Eis que seis anos se passaram e mais uma vez me sinto "traída" pelo meu Brasil, pois acho que nem 10% do prometido foi cumprido. Aliás, os 10% foi invertido para 90%, afinal hoje é nosso governo que banca praticamente a Copa da Fifa. Inventaram legislação da Copa e esta tem por objetivo defender os direitos dos "torcedores" estrangeiros e tentar, minimamente, enganar as lentes jornalísticas do mundo, ainda que para isso os moradores de rua dos centros de Salvador sejam "diasporizados" para a BR 324 para não "fazermos" feio na Copa e mostrar o quão desumanos e injustos, socialmente, nós somos, nosso governo é. Então para o bem da Copa, quem representa ameaça a seu sucesso será periferizado. No caso você, eu e todos os recalcados.
Agora, em 2014, faltando menos de 15 dias para o Brasil entrar em campo eu ainda não consigo torcer por ele. E nem é porque eu acho que esse dinheiro todo deveria ser investido em educação, segurança e saúde, pois dinheiro para isso nunca faltou, o que falta nessa questão são outras coisas. Eu tenho raiva (recalque) porque fui traída na minha paixão pelo esporte e no meu direito de cidadã. Prometeram-me mundos e fundos e eu acreditei. Perdi os mundos, os fundos e minha crença. É por essas e por outras, que ainda não te perdoei e nem vou torcer por você nessa Copa, Brasil. Afinal me assumo: recalcadaaa!


Salvador, 31 de maio de 2014.
Josane Silva Souza