Isso me interessa!

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Canção para quando João vier....

Era um daqueles dias que chegava ao fim e eu só pensava na minha casa, e dentro dela havia o sorriso mais lindo do mundo, mais encantador, mais contagiante. Dirigi por cerca de 1 hora, normalmente eu faria aquele percurso em 15 minutos, mas devido a engarrafamentos meu tempo se tornou largo, extenso e morria de saudade daquele sorriso, daqueles dentinhos pequeninos e cheios de manhas. Ainda não havia me acostumado passar o dia todo longe dele, 3 anos já haviam se passado, mas mesmo assim todas as manhãs quando ele dizia:
-Tchau mami, bom dia!
Meu coração se derretia, ficava em caquinhos. A verdade é que ele nunca sofreu muito, sempre foi muito auto-suficiente, nas primeiras semanas de trabalho, lembro que ele questionava o porque de eu ter que sair de casa e ele não poder ir comigo, e logo que expliquei a importância de trabalhar para a mami dele, ele assentiu com a cabeça, deu mais um sorriso lindo e disse que ia sentir saudade. 
Assim que estacionei o carro do lado de fora da casa, eu ouvi os latidos dos meus cachorros, logo em seguida os gritos mais estridentes que podem existir.
-maaaaaaaami, maaaaaami chegou, mami chegou....
Corri, o peguei no colo, beijei seu rosto até ele não suportar mais tanto amor e carinho meu. Pediu que o colocasse no chão e fechasse os olhos, que ele tinha uma surpresa para me mostrar:
-mami vem comigo..
Eu fui imaginando milhões de coisas, pois todo dia era a mesma história, ou era um desenho nosso, ou uma arte mais moderna, massinhas coloridas, algo que sempre me enchia de orgulho e de amor.
Quando ele pediu que eu abrisse os olhos, inicialmente eu não entendi, mas ele vendo minha cara de desentendimento pediu-me que olhasse melhor a televisão, se eu não percebia o quanto ela "brilhava", e eu nada.
Até que ele disse com aquele sorriso que me desajustava toda:
-Eu dei banho nela mami, com sabão e tudo, ela está novinha em folha de novo.
Eu entrei em pânico. Nossa televisão de última geração, que só ele usava para ver os desenhos.
- Oh filhote, você lavou mesmo, hein?! Só tem uma coisa que mami precisa explicar para você, a tv não toma banho, quando damos banho nela, ela não liga mais. Vamos combinar uma coisa? Da próxima vez que você for dar banho em alguma coisa, primeiro vai me dizer e eu vou dizer se pode, combinado? Mas nada que liga na tomada toma banho, está bem?
-É mami? que bom, amanhã eu já ia dar banho no computador, não dei hoje porque já estava cansado demais já...

domingo, 26 de maio de 2013

O Brasil esfaqueando a maioridade penal...


A discussão da vez é sobre maioridade penal. Cogita-se a possibilidade, nada remota, de diminuir para 16 anos de idade a maioridade penal. Que mude para 16, 14, 12, 10 anos. Que diferença faz? Para mim não faz nenhuma, porque a discussão não deveria ser essa. Discutir isso é raso, superficial e não resolve de fato o problema que nós temos. Se a decisão de mudar a lei é baseada no fato de ter indivíduos de 16 anos cometendo crimes, não faz diferença aplicar essa mesma lei em outros de 14, 12 e até 10 anos que cometem esses mesmos crimes. E esqueçamos de estatuto da criança e do adolescente, dos direitos humanos, das políticas públicas e da justiça. Justiça? Falar desse nome no Brasil é uma tentativa enfadonha de procurar aquilo que nunca será encontrado.
Por que em vez de diminuir a maioridade penal, o estado não diminui sua hipocrisia, massacre, criminalidade, desonestidade, negligência e crueldade? Porque mudar um artigo na Lei é bem mais fácil. Difícil é mudar a forma como esse país vem sendo construído, difícil é reconhecer que se tem tanto jovem envolvido em criminalidade, minimamente não é porque é gostoso ser bandido, tem algo fora do lugar nessa questão e que eles deveriam buscar as respostas, nos dar respostas. Besteira minha, não é? O país precisa existir, precisa existir culpados, inocentes, bem, mal e uma comodidade mórbida. Besteira minha achar que pode haver coerência entre vantagens e necessidades.
Há ainda outro fator muito relevante. Nós sabemos que nossa sistema penitenciário forma mestres e doutores em bandidagem, em falta de humanidade. Um jovem que entra para a cadeia porque colocou uma faca no pescoço de alguém em um assalto para sustentar seu crack, sai dela esfaqueando tudo e todos. Esfaqueia a justiça, a ética, as pessoas, mas antes foi esfaqueado pela sociedade, pelo sistema, pelo estado. Não tenho interesse em defender jovens criminosos, mas antes de tomar qualquer decisão que implique numa mudança tão crucial, quero pensar nas consequências que isso poderá nos trazer. Eu falo "nos" por afetar diretamente a mim. 
Se vivêssemos em um país onde educação, saúde e segurança fossem prioridade talvez agora não tivéssemos o trabalho de mudar o numerosinho 18 para 16. Mas colocar uma venda nos olhos e um sorriso no rosto sempre foi o caminho percorrido por quem acredita que justiça se constrói da noite para o dia.
Enfim, caso essa nova constituição entre em vigor, para quem ela terá valor mesmo, hein? É bom pensar...

domingo, 19 de maio de 2013

Eu não sei ser mulher....



Venho me surpreendendo com a forma de como as mulheres, fictícias ou não, que eu tenho entrado em contato, tem despertado em mim uma insatisfação agonizante. Esse sábado eu assisti Thérèse, um filme que conta a história de uma mulher que tem sua vida toda permeada por determinismos, desde antes de vir ao mundo e até que se parta dele. 
Acho os filmes franceses sombrios por natureza, é uma característica muito deles. A frieza e a secura que é tão peculiar, as vezes contrasta de forma comovente com nossa cultura, nosso jeito. Óbvio que também não quero ser determinista e dizer que eles só produzem filmes assim, mas normalmente é, basicamente, o que chega para nós, é o que temos acesso. 
Thérèse é uma mulher que vive para pensar, e em seus pensamentos há grande oposição à sua realidade, não aceita, mas também não vê muita saída, logo vê o casamento como forma de se salvar, única forma, além de aumentar a propriedade de sua família e da família de seu futuro marido, já que ambos são vizinhos e juntos poderão tornar-se mais fortes politicamente e socialmente. A ideia de um casamento com amor não existe. Existe uma necessidade de justificar a vida que levam, maior do que eles mesmos . 
Ao casar-se com Bernard, Thérèse descobre que o que sente não pode ser salvo, nem pela ideia de vida à dois, ganhos financeiros, tampouco pela filha que geriu. Um dos fatos que me chamou atenção foi a falta de passionalidade com relação a sua filha, em todo filme você não percebe uma troca afetiva entre elas. Ela a pariu porque era imprescindível, as mulheres casam para parir, não importa qual a sua vontade, naquela época, quantos mais filhos, melhor, se fosse um varão então, perfeito. Thérèse não consegue viver a vida que quer e nem a vida que determinaram para ela, sua feição sombria e carregada de um fardo estertorante nos faz comungar, enquanto mulheres, com a dura vida que só cabe a nós vivermos. Ser mulher é muito complexo, viver isso de forma coerente creio que é quase impossível. 
O filme, apesar de simples, me fez absorver todos os desmembramentos, que a sociedade impõe, de acordo com seu interesse.  Percebi que ao sair do cinema eu tinha muito de Thérèse em mim, acredito que até meu caminhar estava parecido com o dela. Caminhei por mais de uma hora, da Carlos Gomes até a Sete Portas, e de fato não queria estabelecer contato com mais ninguém, quase que nem respondia aos chamados eloquentes dos vendedores na Barroquinha, eu não queria perder o contato que tinha estabelecido comigo  através de Thérèse. Creio que já me tiraram coisas demais na vida pelo fato de ser mulher, não queria que me roubassem aquela reconexão comigo, por mais dolorosa que tenha sido. Eu ignorei os olhares que eram dirigidos para a moça de vestido longo floral Frida Kahlo e casaco amarelo. O que era primaveril por fora, era inverno congelante por dentro. A sensação de não conseguir ser o que desejo doeu tanto que chorei. E ainda choro, por mais que as lágrimas já tenham cessado. E Thérése, ainda que seja "friamente" francesa, comunga do mesmo sentimento de determinismo que só o mulheril, em qualquer parte do mundo, pode sentir. Eu, costumeiramente ensolarada, fui friamente francesa hoje!

domingo, 12 de maio de 2013

Poeticamente, eu também me encontrei, Elena!





Há algumas semanas eu tenho visto o trailer do filme brasileiro Elena. Ficava encantada com o texto, com a história e possível desfecho, ficava imaginando o que tinha acontecido com Elena, mas surpresa maior me causou perceber o que Elena fez comigo, de repente estava diante da tela do cinema extasiada com tanta beleza, doçura e poesia.  Elena é um documentário poético, artístico e vivo. É real. É inspirador. 
O enredo conta a história de uma menina que sonha viver de arte, que se não for para ser assim, prefere morrer. Ela, ainda jovem, decide ir para Nova York porque quer fazer cinema, volta meses depois, recebe uma carta de aceite para uma universidade americana e retorna, mas dessa vez com a mãe e sua irmãzinha, Petra. Petra Costa, que decide percorrer os seus passos, em todos os sentidos. Ela vira atriz e vai para Nova York, mesmo sua mãe dizendo que essas eram as únicas coisas que ela não poderia fazer na vida. Mas ela fez, ainda bem que ela fez!
Acredito que poucos, assim como dizia Diego Rivera com relação a Frida, tenham conseguido colocar tanta amargura poética numa tela, mas nesse caso numa tela de cinema. Petra conseguiu. De alguma maneira, o sentimento de Elena é compartilhado com nossa eterna dúvida do que é a vida. Ela nos convence de que se a vida não vale a pena, temos que morrer junto com ela, mas ironicamente, o documentário mostra o quão viver vale a pena, especialmente para apreciar a arte. No filme, Petra morre hipoteticamente  para ressurgir, re-significar sua existência, e ela consegue nos re-significar com sua poesia, com o tom doce de sua voz ao delatar cada passo transcorrido por Elena, existe poesia em tudo. E assim como Elena, que mesmo distante vira água, se desfazendo em gotas, desaparecendo, nós esboçamos no sorriso o refazimento do sentido da arte, da vida. É porque em algum momento arte e vida se confundem, você não consegue mais perceber a diferença entre uma coisa e outra.
A partir do momento que eu te conheci, Elena, eu me encontrei, poeticamente!


segunda-feira, 6 de maio de 2013

Hoje eu senti inveja de Paris....


Está ocorrendo essa semana o Festival Varilux de Cinema Francês. Passei meus últimos três anos meio apática com relação a cultura francesa, na verdade tenho desmistificado aquela ideia que tinha na minha adolescência sobre os clássicos literários franceses, não que eles não sejam bons, são maravilhosos, mas de certo modo foi minha referência literária por muitos anos, sendo que eu podia ter tido muitas outras. Vi hoje o filme Uma dama em Paris de Ilmar Raag. O gênero é dramático, mas é permeado por um estilo jocoso que nos entretém e nos arranca gargalhadas em vários momentos. 
O enredo conta a história de Anne que vive na Estônia e está em um momento doloroso por conta da perda  da mãe, mas algo inesperado acontece, ela recebe uma proposta de trabalho: ir viver em Paris e cuidar de uma senhora idosa que possui a mesma origem que a sua. No entanto as coisas não funcionam de forma simples, pois Frida, a senhora que necessita cuidados, é uma mulher que vive só e cheia de amargor, por isso tenta de todas as formas dispensar Anne, a qual não foi contratada por ela, mas pelo seu ex-amante. A história é singela, todavia me chamou atenção os passeios tranquilos que Anne faz na noite parisiense, coisa impensada para a noite soteropolitana. Isso me fez refletir bastante por ser uma pessoa extremamente noturna, por ter desejos desmedidos em andar pela noite afora sem me preocupar com violência e violação. Sonho um dia poder sair pela cidade olhando vitrines e monumentos que são modificados pela noite, pela quase ausência de barulho e de pessoas, situação que eu vi o tempo todo no filme, apesar de não acreditar que Paris seja a descrição de Dumas, Verne e Hugo que tanto li na minha adolescência e revivi hoje em Uma dama em Paris. 
Ao sair do Cinema do Museu, no Corredor da Vitória, foi acometida por uma realidade de flanelinhas sedentos e ávidos meninos de rua que me entristeceu e me atormentou  Nos ensinaram a vida toda que o estilo de vida parisiense deveria ser seguido e admirado, mas não nos ensinaram a reconhecer nossa cultura e mudá-la de acordo com nossas necessidades e desejos desmedidos, fomos ensinados somente a aceitá-los.
Essa sensação de não poder andar livremente pela rua me fez refletir também sobre questões de gênero, não que só as mulheres sejam as únicas vítimas de violência, os homens também são, mas nós mulheres estamos sujeitas às situações que os homens normalmente não estão, e isso me atemoriza desmedidamente. 
Depois de caminhar assustada pela rua deserta por 10 minutos, comecei a pensar na maldade que um homem pode me causar. Cheguei ao ponto de ônibus e encontrei um ex-colega de trabalho que não o via fazia algum tempo, nunca fomos próximos, afinal fiquei na empresa menos de um mês, mas sempre que o encontro sou educada. Assim que me viu veio falar comigo efusivamente, coisa que nunca aconteceu antes, aquilo me assustou, logo percebi pelo cheiro e pela forma como me olhava e falava comigo que estava meio embriagado, fiquei constrangida, não que ele tenha me destratado ou falado algo obsceno, mas o jeito como me olhava e pegava no meu braço me deixou extremamente incomodada. Odeio que me peguem, me toquem, sem que haja correspondência ou intimidade.  Sei que o fato de eu ser mulher e ele ser homem o fez presumir que eu estava disponível, mas não estava, me nego a estar para esse tipo de homem!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Hoje eu comi infância...



Hoje eu comi minha infância, é verdade, eu a comi, com toda vontade. Lembro que quando era criança minha mãe fazia os famosos bolinhos de chuva, era uma refeição quase diária nos nossos cafés da manhã, às vezes a única. Eu faço bolinhos de chuva, dizem que até cozinho bem, mas eu nunca consegui e jamais vou conseguir fazer os bolinhos de chuva e o café preto que ela fazia naquela época, que ela ainda faz. Ela os fazia porque de certa forma a farinha de trigo e ovos eram mais baratos e éramos uma família grande e faminta. Fazia também cuscuz e beiju  em dias alternados, claro, não tinha condições de fazer um rico café da manhã, aliás a comida era regrada por demasio, era cerca de 5 a 7 bolinhos de chuva para cada um, isso não era imposto, mas já cumpríamos esse ritual porque no fundo, apesar de todos os conflitos, não queríamos ver nenhum dos irmãos com fome. Houve épocas que cheguei a odiar bolinhos de chuva, isso porque era a única menina e por mais que fosse ousada e vivesse sob uma educação matriarcal, a meus irmãos eram poupados depois de certa idade os serviços domésticos. Lembro-me bem que minha mãe acordada às 6:00h e antes de sair para trabalhar, fazia a massa em um prato marrom duralex, fritava os sete que ia comer, fazia o café e deixava o restante da massa para que eu fritasse assim que acordasse, pois era a mocinha que tinha que fazer, as vezes meu sono e a fome dos meus irmãos falavam mais alto, então eles mesmos fritavam, lógico, cada um fritava seus sete bolinhos, quando eu acordava fritava o resto da massa ou fritava tudo. Pois bem, aquilo que há algum tempo foi martírio, hoje eu como com saudade e desejo, hoje eu como infância!

Gerard Butler invadiu nossa "Casa Branca"...


O filme Invasão a Casa Branca além de trazer  o que nós sempre esperamos em qualquer filme clássico: romance, ação, comédia e drama, traz claramente uma simbologia que a primeira potência mundial precisa estabelecer entre suas necessidades caso ocorra uma III Guerra Mundial e apoio incondicional dos países que comungam da sua política. Esse filme, em minha opinião, nada mais é do que um financiamento barato dos USA para alcançar o que querem: convencer o mundo de sua bondade e extrema inocência. A história é compenetrante, cada detalhe é muito bem planejado, inclusive Mike, interpretado por Gerard Butler que é conduzido por todo enredo, da maneira mais heroica possível.  O filme, como o próprio nome sugere, tem a Casa Branca sendo invadida por grupos altamente armados da Coréia do Norte enquanto o ministro da Coréia do Sul está em reunião com o presidente estadunidense. Mike, que há 18 meses não faz parte mais do serviço secreto protegendo o presidente, já que nessa mesma época  ocorreu um trágico acidente com a comitiva presidencial, aonde a primeira dama foi morta. Por sua presença à frente do serviço fazer com que o presidente não se esqueça do fatídico acidente, ele é afastado e no momento da invasão está trabalhando distante da antiga função. O personagem do presidente é um homem extremamente sensível, humano e até choroso por alguns momentos. O filme em si tem tudo para alcançar seu objetivo, enredo bacana, um ator que é aclamado pela crítica dos últimos anos, desejado pelas mulheres, invejado pelos homens. Toda história é criada em cima da sensibilidade mundial e funciona muito bem, comove mesmo, faz até que nós esqueçamos por um instante quem é o USA e nos comovamos com a sua "dor". Longe de mim querer defender Coréia do Norte ou arruinar a imagem dos USA, pois como dizem os mais velhos que em briga de marido e mulher não devemos meter a colher, penso que matrimônio deles só a eles desvelam a resolução. Por fim, com relação ao filme, posso dizer que de fato o objetivo foi alcançado de maneira comovente,ao passo que a sessão era concluída com palmas e alegria do lado de la da tela, as pessoas do meu lado impressionantemente eram contagiadas e acompanhavam batendo palmas com muita alegria.

domingo, 14 de abril de 2013

A cútis é minha, mas quem a define não sou eu.....

                                                                      (Foto 3X4)

Essa semana fui tirar a segunda via da minha carteira de identidade e não há nada no mundo que nos identifique mais do que esse precioso documento. Basicamente todo mundo que eu conheço tem traumas da foto 3X4, ela parece nunca estar de acordo com o que somos ou sonhamos ser, mas é ela que todo mundo enxerga quando quer nos identificar quando precisamos entrar em algum lugar. 
Cheguei ao SAC do Salvador Shopping às 13:20 como havia agendado, lógico que antes passei no toalete para fazer um make, porque agora eles tem um sistema que tira a foto na hora, e queria sair na foto minimamente apresentável, pois chega de traumas, mas não foi o que sucedeu...me dirigi à atendente, e esta que estava mal humorada, não me deu atenção. Pediu os documentos, preencheu os dados, conferiu tudo, tirou a foto, foram pelo menos três tentativas, afinal eu usei e abusei da câmera deles, queria de verdade uma cara legal. Depois de todo esse procedimento ela pediu-me, agora mais gentil, que conferisse meus dados para que pudesse ser feita alguma correção:

-confere aí para ver se tá tudo certo!
Eu li tudo, meu nome, nome dos meus pais, endereço, escolaridade e até que me deparei com a palavra cútis, e a minha cútis estava identificada como parda, parei de ler...não enxergava mais nada e a questionei:
-Por que aqui diz que sou parda?
-Porque você é parda, você não é branca.
-Não, disso eu sei, branca eu não sou mesmo. Mas por que parda? Qual o critério que vocês usam?
-Minha senhora, aqui só tem parda e branca, branca a senhora não é, logo a senhora é parda.
-Mas quem o SAC pensa que é para dizer que sou parda ou branca?
-Minha senhora, para mim a senhora é parda.
-Não me importa se a senhora ou quem quer que seja diga que sou parda ou qualquer outra coisa, quem define isso sou eu, não?
-Não. Assina aí. Se quiser saber mais converse com a coordenadora. Aqui só tem cútis parda e branca. Foi feita uma comissão aí e decidiram tirar amarelo e preto, e agora só tem isso.
-Estamos em Salvador, onde a maioria populacional tem a cútis preta, se chegar uma pessoa aqui quase da cor desse seu mouse preto aí a senhora também vai colocar que a pessoa é parda?
-Eu não sei te dizer mais, se você quiser pode conversar com a coordenadora. Está tudo ok?
-Eu não sei, até o parda estava, depois disso não consegui ler e perceber mais nada...

Vem a coordenadora, muito simpática, e me chama para conversar em outro lugar. Eu questiono a ela o porquê de ter a identificação só para a cútis parda e branca, e ela me explica que na verdade ainda existe as referências para branca, preta, parda e amarela, que só foram tirados o pardo claro e pardo escuro, que inclusive agora ela entraria como branca e não mais como parda clara. O fato é que ela me contou a história da sua vida, filha de pai negro, o que lhe dava grande orgulho e precisou conter o choro por pelo menos umas duas vezes. Explicou-me que quando vivia no RJ não enxergava esse racismo todo, que só foi vê-lo aqui em Salvador. Eu expliquei para ela que isso podia ocorrer com mais frequência por uma questão de exposição, que nossa cidade era composta por maioria negra, logo a discussão e percepção do racismo era mais evidente, ao que ela me disse que não via porque discutir, que eu era jovem e bonita, não precisava ficar preocupada com isso, ao que eu disse:
-Um dia eu quero ter filhos, e se eles forem negros, aliás tiver a cútis preta, eu não vou querer que eles passem por cinco por cento do que tenho passado nesses 25 anos de vida.
Acho que ela ficou preocupada, sentida, sofrida...
Sinto que há uma pressão política de higienização racial insistente e incessante, ainda que silenciosa, ela existe. Querem transformar nossa cidade em um lugar de mestiços e documentar isso, pois contra estatísticas não há argumentos. Se um órgão federal atesta que a maioria da nossa população é parda, não pode existir racismo. Essa sempre foi a manobra utilizada pelas classes dominantes para disfarçar um fato, e através disso negar que ele existe, logo não precisa de política pública para algo que não existe.
Foi o que eu entendi! Ah e eu sou parda, segundo a moça do SAC.

A Caça de quem somos.....


O filme A Caça, dirigido por Thomas Vinterberg, é ambientado numa cidade pequena, onde todos se conhecem, e tem como personagem principal Lucas (Mads Mikkelsen), um professor que trabalha numa creche e tenta reconstruir sua vida após se separar da mulher e perder a guarda do filho. O ápice do filme inicia-se quando Klara (Annika Wedderkropp) com cinco anos de idade, que é uma de suas alunas e filha de seu melhor amigo, começa a se sentir desajustada em meio à relação de seus pais, que são duas pessoas desatentas, e por receber atenção de Lucas ao levá-la um dia para casa quando ela se perde e em outro momento quando seus pais brigam, e ele a leva para a escola, ela começa a ter um sentimento incomum pelo seu professor, em um momento em que ele brinca com seus alunos e se finge de morto, ao abrir os olhos é beijado por Klara. Por repreendê-la ainda que de forma cuidadosa, ela experimenta um sentimento de rejeição. Logo depois dessa situação, Klara conta à diretora da escolinha que Lucas mostrou seu órgão genital para ela, dando a entender que ele tenha cometido abuso sexual. A diretora o afasta de suas atividades, comunica o ocorrido aos pais e toda comunidade escolar, e em pouco tempo essa notícia se espalha pela pequena cidade, tendo como consequência uma perseguição sem precedentes contra Lucas, até que isso é levado à delegacia e ele começa a responder criminalmente pelo abuso não só contra Klara, mas contra outras crianças. 
A atuação de Lucas é introspectiva, sofrida, sentida e muitas vezes silenciosa. Um dos momentos mais dolorosos do filme é quando Markus, seu filho, foge da casa da mãe e vai visitá-lo e o encontra em meio ao vendaval em que sua vida se transformou, assim como o pai, Markus sofre da exposição pública à agressão física por tentar defendê-lo e preservar sua imagem.
O enredo do filme nos leva a entrar em contato com o que nós temos de pior: o contágio do mal. Somos capazes de nos organizar em grupo de uma maneira extremamente inconsequente e destruir a vida de uma pessoa ou de uma família. Afinal, quantas vidas já destroçamos meramente como expectadores? Quem nunca levou uma pessoa aos tribunais, a julgou e condenou? Todos nós já fizemos isso, numa proporção menor ou maior, mas já fizemos. Às vezes uma coisa dita de uma forma inesperada ou impensada se torna uma verdade absoluta e irremediável. 
Quantas  Suzanes, Nardones, Brunos, mesmo sem nunca ter tido nenhuma prova que de fato pudéssemos ter noção de toda "verdade',   nós condenamos antes mesmo deles serem julgados pela justiça, só pelo o que ouvimos da mídia ou do vizinho, colegas e amigos? Em todos esses casos de comoção nacional, ou até mesmo internacional, eu me questiono, o que seria dessas pessoas se elas fossem inocentes? Até que ponto uma pessoa que comete um crime pode ser execrada socialmente, já que utilizamos do sentido da justiça para puni-la como maneira de reintegrá-la ao meio social depois do cumprimento da pena? Para nós, de uma maneira geral, uma vez cometido devido crime, o delinquente é proibido eternamente de voltar à sociedade, é um caso perdido, ainda que a lei e a justiça tenha como função puni-lo e regenerá-lo.
O filme traz o outro lado da moeda e de certa forma coloca em cheque nossa confiança em quem somos e de nossa capacidade dubitativa de agir com bondade. O nome do filme A caça obedece uma dicotomia de sentidos, ao mesmo tempo em que nos traz como seres humanos capazes de caçar animais irracionais, nos tornamos caça também da nossa racionalidade humana.

domingo, 7 de abril de 2013

Pior do que ser vítima de racismo, é ser uma vítima algoz!

Há mais ou menos dois anos resolvi retornar a Vitória da Conquista para o Festival de Inverno, o qual estava acostumada vivenciar em praticamente três anos em que morei la. Lembro-me de sair de Salvador numa quinta-feira à noite, pois detesto viagens longas e diurnas. Lembro-me também de ter tido um cuidado especial com minha vestimenta, uma vez que la estaria muito frio, eu chegaria à rodoviária cerca de 5:00 horas da manhã. Havia colocado uma calça jeans, uma blusa gola rolê de cor azul royal, sapatos fechados e cabelo preso em um coque moderno. Poderia jurar quando olhei no espelho antes de sair de casa de que estava muito "bem" vestida. Quando cheguei ao meu destino, tantas memórias me vieram a cabeça, o cheiro, o céu nublado, quantas coisas eu havia vivido ali, penso que foi o lugar que me tornou mulher. Peguei um táxi em direção à casa de uma amiga que vive em um bairro especialmente requintado e frequentado pela classe média-alta conquistense, era lá que ficaria até minha outra amiga ir me buscar mais tarde e me levar para sua casa. Chegando à portaria me dirigi ao porteiro e pedi que interfonasse ao apartamento de minha amiga e avisasse que eu havia chegado, no primeiro momento eu achei que ele não tivesse me ouvido, por isso insisti:

-Sr., pode, por favor, interfonar para o apartamento XXX e avisar à XXXXX que Josane já chegou?

Nesse momento eu percebi que ele tinha me ouvido desde a primeira vez, mas havia me ignorado, como ignorou da segunda e eu tive que repetir uma terceira vez: 

-Sr., pode, por favor, interfonar para o apartamento XXX e avisar à XXXXX que Josane já chegou?

Eis que ele finalmente se dirigiu a mim:

-Você é a nova empregada deles?

Ao que contestei com simplicidade e um sorriso no rosto:

-Não senhor, apenas amiga!

Pelo vidro fumê da guarita não sei se ele ficou sem graça ou se aquilo era algo normal de ser dito. Para quem estiver se questionando ou me questionando o porque de eu achar estranho dele me confundir com uma empregada doméstica, eu digo: problema algum. Não vejo problema em ser empregada doméstica, desde que eu possa escolher sê-la, desde que essa profissão não seja a única que eu possa exercer. 
Mas nesse momento eu questiono quem me lê: será que se eu fosse branca, alta, olhos claros, cabelo liso eu seria confundida com uma empregada doméstica? Algo me diz que não, mas é só algo...
Contei essa história oralmente em vários momentos da minha vida, e me recordo de vários amigos, inclusive de infância, me acusar de ver racismo onde não existe, que a forma como aquele senhor se dirigiu a mim era natural. Pior do que ser vítima de racismo, é ser uma vítima algoz!

As Sessões que todos nós precisamos...

'As Sessões' é um filme honesto e emocionante que merecia mais indicações ao Oscar  fox/divulgação

Baseado em uma história real, o filme As Sessões conta a trajetória da vida nada comum de Mark O´Brien (John Hawkes), que ainda criança contraiu poliomielite e como consequência da doença ficou com o corpo todo paralisado, conservando os movimentos apenas da cabeça. Mark, preso quase todo o tempo em um "pulmão de aço", tem muita dificuldade em se locomover, no entanto leva a vida repleta de um humor considerado irônico para sua condição e prefere que seus acompanhantes sejam detentores dessa mesma qualidade. Nas quase quatro horas que pode passar distante do aparelho ele gosta de ir à igreja e se  confessar com o padre Brendan (William H. Macy) , o qual considera seu amigo. Em uma dessas ocasiões  Brendan o aconselha a procurar uma terapeuta, até que ele opta por uma terapeuta sexual, e essa lhe indica uma especialista em exercícios de consciência corporal, interpretada por Helen Hunt. Trocando em miúdos, uma especialista em exercícios sexuais. Helen Hunt faz uma atuação digna de louvor, ela consegue transmitir para os espectadores uma leveza grandiosa, especialmente nas cenas de sexo, e ao mesmo tempo consegue ser densa quando lida com as adversidades que sua profissão lhe pode proporcionar.
O principal dilema da vida de Mark,  aos 38 anos de idade, é o contato sexual nunca experimentado. Dentro de todo esse dilema, o que mais me chamou atenção foi como o diretor Ben Lewin conseguiu conduzir o enredo fílmico. Por se tratar de um tema extremamente delicado e repleto de tabus - o sexo, e devemos ir além - o sexo praticado por pessoas com o corpo paralisado, ele tratou com uma leveza quase que insustentável para os dias atuais. No início do filme fui fortemente acometida pelos sentimentos de aflição, ânsia, medo e agonia. Todavia ao decorrer do tempo esses  sentimentos foram substituídos por um conforto, o qual não consigo descrever. Além de inspirador, o filme nos traz uma análise perspicaz da vida e das diretrizes que a rege. 
O filme As Sessões nos leva ao divã de nosso âmago mais contestador, ele nos leva a acreditar que diante da vida toda essa contestação pode ser repleta de poesia. Ao contemplá-lo pude expulsar pelos olhos, em forma de lágrimas, todo sentimento contido e foi estranhamente reconfortante as expressões nos rostos das pessoas que me encaravam na saída do cinema, de alguma maneira eu estava despida diante delas, se não era de corpo, pelo menos de espírito!

Trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=6N7TNfgRRX4

domingo, 31 de março de 2013

Meu determinismo pseudo intelectual

O mais interessante é que o Estado cria marginais para depois puni-los e tem um monte de pseudo intelectual que compartilha essa superficialidade e nem percebe. Por isso que eu não julgo algumas pessoas que se comportam de determinadas formas, que se vestem com determinadas roupas, fazem determinadas dancinhas ditas "baixo-astral", mas não é porque sou melhor que ninguém não, é porque eu transfiro esse meu poder tão crítico de Cezar para os pseudos intelectuais que podem ditar as regras da sociedade, dizer o que alguns Miseráveis podem falar, escrever, ler ou como se comportarem. Acredito que seja muito fácil sentar confortavelmente em sua poltrona  enquanto o mundo gira e ficar lá apontando o dedo para as pessoas que não tiveram a mesma oportunidade de vida que você (se é que elas querem ter, né?!). Ah, mas não tiveram porque não lutaram para ter. É mesmo?! Logo destoo o meu julgamento maldoso tanto quanto o seu: você que pensa assim é um fascistinha de araque, viu?! Ou pior (para você) é um ignorante que não consegue perceber as nuances da qual nossa sociedade vem sendo formada. 
OK OK! Eu também não gosto das letras de pagode e nem de funk, apesar de considerar que a batida desses ritmos é ótima. Mas eu não julgo as pessoas que assim o fazem, eu não pego uma imagem de pessoas com baixo ou quase nenhum poder aquisitivo, normalmente negras e compartilho com o mundo como se aquela "verdade" impregnada de símbolos preconceituosos fosse a única. Ao fim e ao cabo, você pseudo intelectual que costuma ler Tolstói numa tarde de domingo, não é melhor que a funkeira que dança seu som preferido como se não houvesse amanhã, a diferença é que ela vive e nem sabe que  você existe, enquanto que você já tem uma tese mental quase pronta sobre ela.....

domingo, 24 de março de 2013

Os males que nos ganham....



Com lágrimas nos olhos, eu quero revelar uma coisa boa que Marco Feliciano trouxe para mim. Ele me trouxe um sentimento bom, o sentimento de perceber que nós brasileiros ainda lutamos, ainda acreditamos e ainda exercitamos o respeito acima de qualquer dogma. Ao ver todas as manifestações em prol de um ministro que de fato nos represente, me represente enquanto negra, represente meus amigos gays, minha família de origem humilde, faz com que eu esqueça a inveja eu eu senti quando cheguei a Buenos Aires e via manifestação noite e dia contra as opressões que os governantes exerciam sobre aquele povo. Lembro-me bem de sentar na Plaza de Mayo vendo estudantes secundaristas lutando pelos seus direitos, enquanto que aqui no Brasil, na Bahia postergava por três meses uma greve de professores do estado, naquele momento eu senti vergonha de ser brasileira e baiana, porque ao contrário de lá, a greve daqui era considerada uma banalidade desnecessária. Desde esse dia eu comecei a ter uma vontade imensurável de conhecer Brasília, a capital do meu país, onde os nossos representantes estão abusando do seus estatos para nos oprimir e se enriquecerem. É isso, pra frente Brasil!

Elza você me representa:

http://www.youtube.com/watch?v=Sh_SpKDoOH0

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

...O carnaval não tem fim!



Enquanto estava na avenida eu prometi a mim mesma que iria escrever sobre as sensações que tive ao observar por alguns momentos a figuração momesca. As situações mais absurdas vão desde ver crianças, a maioria negra, trabalhando horrendamente, a mulheres sendo agredidas nas formas mais diversas. Em uma dessas situações onde eu vi uma criança negra trabalhando de catador de latas, eu comentei como aquilo era absurdo, e a dona da lanchonete onde eu estava no final do percurso disse que quando uma criança trabalha de atriz na televisão é considerado normal, mas aquelas crianças não podem catar latinha. Como se tivesse comparação, não é minha gente? Eu fico com o direito da criança brincar, ter acesso à educação, saúde e a uma família que a ame, cuide e respeite.  Isso no Brasil está complicado, no nosso estado mais ainda.
Em um dos dias que estava observando a passagem do bloco que tocava a banda Asa de Água, eu fiquei em choque quando reparei que todas os cordeiros que pude contar, exatamente todos, eram negros, que pela conversa, forma de tratamento, existiam famílias trabalhando ali, de adolescentes de 16 anos a senhoras de mais de 50 anos. Foi estarrecedor. Quando procurei pessoas negras pulando dentro do bloco, eu não vi nenhuma, nesse momento, nesse bloco, eu não vi. A cena se repetiu praticamente com todos os 5 blocos que vieram depois e eu fugi da avenida, entre lágrimas, eu fugi. Aquilo era a materialização da minha neurose tão julgada tantas vezes por meus amigos: “racismo? Para com isso amiga, isso é loucura, não existe mais, vivemos num país democrático, longe da escravidão”.
Não, ele existe sim. Ele me beliscou e me torturou enquanto eu estava no bloco Afropop,  chegamos ao final do percurso e a Band fez uma homenagem pelos 25 anos de carreira de Margareth Menezes, responsável por levar o bloco. A dançarina da Band que ficava em um lugar de destaque no camarote, reservado exclusivamente para ela, era loira, extremamente magra, não tinha a ginga do nosso samba, não tinha nossa carga cultural. Eu olhei para o lado e tinha um homem igualmente branco e perguntei:
-Ela é bonita?
-Quem?
-A moça, aquela lá em cima. Ela é bonita?
Ele olhou, olhou e olhou e disse-me:
-Não, ela é muito produzida. Por quê?
-Porque ela não me representa. Ela não representa 80% da população baiana, mas é ela quem está lá.
Ele olhou para ela, me olhou novamente, olhou meus cabelos cacheados, meu rosto e meu jeito e disse:
-Tá vendo Mariene de Castro ali? Ela sim te representa.
Fiquei feliz com aquilo e segui o percurso do bloco. Ao final olhei para Margareth um tempão até ela me olhar de volta lá de cima do trio e gritei:
-Você me representa.
Ela abriu um sorrisão e deu joinha! 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013


A Falácia Masculina do Homem  “Pós-moderno”


Tem algum tempo que venho observando o comportamento do homem “pós-moderno” a partir de alguns relacionamentos amorosos meus e de minhas amigas. E cheguei à conclusão que a infelicidade tomou conta, não vejo nem Maria e nem João satisfeitos, vejo sofreguidão e faz de conta, mas como não quero concluir o meu pensamento na introdução, já que literariamente isso não é corente, vou ser coesa com minha proposição ao estar aqui.
A modernidade é uma falácia, ela conseguiu extinguir o que tinha de positivo nos homens das cavernas e manteve tudo que nós, mulheres, repudiamos. Hoje em dia além de termos a obrigação de ser feminina, temos também de ser masculinas, porque aquelas situações problemáticas de relacionamentos que o homem alpha chegava e resolvia, agora somos nós que resolvemos. O homem conseguiu ser antagonista de si mesmo, e nós, frustradamente, estamos cada dia mais protagonistas do mundo de Alice, e pior, sem coelho e nem cachola.
A música melódica que Paula Toller canta “Você me tem fácil demais, mas não parece capaz, de cuidar do que possui, você sorriu e me propôs, que eu te deixasse em paz, me disse vai, e eu não fui”,  representa nada mais do que o homem que não sabe o que quer, porque não dá para abandoná-lo com carinha de cachorro que se perdeu na mudança, infelizmente aquele negócio de maternidade ainda nos sensibiliza e nos escraviza, mas a culpa é nossa também, não isento ninguém da culpabilidade dos fracassos.
O que vejo muitas mulheres reclamando hoje em dia é que foram educadas para lidar com um tipo de homem, e caiu de paraquedas um homem “pós-moderno” na sua frente e agora tem que desconstruir toda uma vida se quiser ser “feliz” numa relação amorosa monogâmica ou poligâmica, porque tem estilo e gosto para todos, basta querer uma aventura entre o ser e o não ser.
Eu queria que a teoria tão pregada por Stuart Hall ao afirmar que o sujeito moderno vive uma descentralização de identidade não chegasse ao homem masculino, pois lidar com anos de inúmeras repressões e ainda ter que pedir ao “alpha” para f...ou sair de cima não foi o que nós sonhamos para o século 21.