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domingo, 19 de maio de 2013

Eu não sei ser mulher....



Venho me surpreendendo com a forma de como as mulheres, fictícias ou não, que eu tenho entrado em contato, tem despertado em mim uma insatisfação agonizante. Esse sábado eu assisti Thérèse, um filme que conta a história de uma mulher que tem sua vida toda permeada por determinismos, desde antes de vir ao mundo e até que se parta dele. 
Acho os filmes franceses sombrios por natureza, é uma característica muito deles. A frieza e a secura que é tão peculiar, as vezes contrasta de forma comovente com nossa cultura, nosso jeito. Óbvio que também não quero ser determinista e dizer que eles só produzem filmes assim, mas normalmente é, basicamente, o que chega para nós, é o que temos acesso. 
Thérèse é uma mulher que vive para pensar, e em seus pensamentos há grande oposição à sua realidade, não aceita, mas também não vê muita saída, logo vê o casamento como forma de se salvar, única forma, além de aumentar a propriedade de sua família e da família de seu futuro marido, já que ambos são vizinhos e juntos poderão tornar-se mais fortes politicamente e socialmente. A ideia de um casamento com amor não existe. Existe uma necessidade de justificar a vida que levam, maior do que eles mesmos . 
Ao casar-se com Bernard, Thérèse descobre que o que sente não pode ser salvo, nem pela ideia de vida à dois, ganhos financeiros, tampouco pela filha que geriu. Um dos fatos que me chamou atenção foi a falta de passionalidade com relação a sua filha, em todo filme você não percebe uma troca afetiva entre elas. Ela a pariu porque era imprescindível, as mulheres casam para parir, não importa qual a sua vontade, naquela época, quantos mais filhos, melhor, se fosse um varão então, perfeito. Thérèse não consegue viver a vida que quer e nem a vida que determinaram para ela, sua feição sombria e carregada de um fardo estertorante nos faz comungar, enquanto mulheres, com a dura vida que só cabe a nós vivermos. Ser mulher é muito complexo, viver isso de forma coerente creio que é quase impossível. 
O filme, apesar de simples, me fez absorver todos os desmembramentos, que a sociedade impõe, de acordo com seu interesse.  Percebi que ao sair do cinema eu tinha muito de Thérèse em mim, acredito que até meu caminhar estava parecido com o dela. Caminhei por mais de uma hora, da Carlos Gomes até a Sete Portas, e de fato não queria estabelecer contato com mais ninguém, quase que nem respondia aos chamados eloquentes dos vendedores na Barroquinha, eu não queria perder o contato que tinha estabelecido comigo  através de Thérèse. Creio que já me tiraram coisas demais na vida pelo fato de ser mulher, não queria que me roubassem aquela reconexão comigo, por mais dolorosa que tenha sido. Eu ignorei os olhares que eram dirigidos para a moça de vestido longo floral Frida Kahlo e casaco amarelo. O que era primaveril por fora, era inverno congelante por dentro. A sensação de não conseguir ser o que desejo doeu tanto que chorei. E ainda choro, por mais que as lágrimas já tenham cessado. E Thérése, ainda que seja "friamente" francesa, comunga do mesmo sentimento de determinismo que só o mulheril, em qualquer parte do mundo, pode sentir. Eu, costumeiramente ensolarada, fui friamente francesa hoje!

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