Isso me interessa!

domingo, 7 de abril de 2013

Pior do que ser vítima de racismo, é ser uma vítima algoz!

Há mais ou menos dois anos resolvi retornar a Vitória da Conquista para o Festival de Inverno, o qual estava acostumada vivenciar em praticamente três anos em que morei la. Lembro-me de sair de Salvador numa quinta-feira à noite, pois detesto viagens longas e diurnas. Lembro-me também de ter tido um cuidado especial com minha vestimenta, uma vez que la estaria muito frio, eu chegaria à rodoviária cerca de 5:00 horas da manhã. Havia colocado uma calça jeans, uma blusa gola rolê de cor azul royal, sapatos fechados e cabelo preso em um coque moderno. Poderia jurar quando olhei no espelho antes de sair de casa de que estava muito "bem" vestida. Quando cheguei ao meu destino, tantas memórias me vieram a cabeça, o cheiro, o céu nublado, quantas coisas eu havia vivido ali, penso que foi o lugar que me tornou mulher. Peguei um táxi em direção à casa de uma amiga que vive em um bairro especialmente requintado e frequentado pela classe média-alta conquistense, era lá que ficaria até minha outra amiga ir me buscar mais tarde e me levar para sua casa. Chegando à portaria me dirigi ao porteiro e pedi que interfonasse ao apartamento de minha amiga e avisasse que eu havia chegado, no primeiro momento eu achei que ele não tivesse me ouvido, por isso insisti:

-Sr., pode, por favor, interfonar para o apartamento XXX e avisar à XXXXX que Josane já chegou?

Nesse momento eu percebi que ele tinha me ouvido desde a primeira vez, mas havia me ignorado, como ignorou da segunda e eu tive que repetir uma terceira vez: 

-Sr., pode, por favor, interfonar para o apartamento XXX e avisar à XXXXX que Josane já chegou?

Eis que ele finalmente se dirigiu a mim:

-Você é a nova empregada deles?

Ao que contestei com simplicidade e um sorriso no rosto:

-Não senhor, apenas amiga!

Pelo vidro fumê da guarita não sei se ele ficou sem graça ou se aquilo era algo normal de ser dito. Para quem estiver se questionando ou me questionando o porque de eu achar estranho dele me confundir com uma empregada doméstica, eu digo: problema algum. Não vejo problema em ser empregada doméstica, desde que eu possa escolher sê-la, desde que essa profissão não seja a única que eu possa exercer. 
Mas nesse momento eu questiono quem me lê: será que se eu fosse branca, alta, olhos claros, cabelo liso eu seria confundida com uma empregada doméstica? Algo me diz que não, mas é só algo...
Contei essa história oralmente em vários momentos da minha vida, e me recordo de vários amigos, inclusive de infância, me acusar de ver racismo onde não existe, que a forma como aquele senhor se dirigiu a mim era natural. Pior do que ser vítima de racismo, é ser uma vítima algoz!

2 comentários:

  1. Não é natural zorra nenhuma! Só que vive esse racismo velado e institucionalizado sabe como as coisas aqui funcionam. Por que eles acham que os negros e negras tem que sempre ficarem na posição de servir? Se não fosse racismo não agiriam de uma forma quando se trata dos negros e de outra, quando se refere a gente de cor branca. Já que dizem que somos todos iguais e temos os mesmos direitos (assim prega a Constituição Federal), porque a essa diferenciação no tratamento dado a uma determinada raça?

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  2. O racismo é velado e consentido, não por mim, não por você, mas pela elite ou pela classe que pensa ser elite!

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