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domingo, 14 de abril de 2013

A Caça de quem somos.....


O filme A Caça, dirigido por Thomas Vinterberg, é ambientado numa cidade pequena, onde todos se conhecem, e tem como personagem principal Lucas (Mads Mikkelsen), um professor que trabalha numa creche e tenta reconstruir sua vida após se separar da mulher e perder a guarda do filho. O ápice do filme inicia-se quando Klara (Annika Wedderkropp) com cinco anos de idade, que é uma de suas alunas e filha de seu melhor amigo, começa a se sentir desajustada em meio à relação de seus pais, que são duas pessoas desatentas, e por receber atenção de Lucas ao levá-la um dia para casa quando ela se perde e em outro momento quando seus pais brigam, e ele a leva para a escola, ela começa a ter um sentimento incomum pelo seu professor, em um momento em que ele brinca com seus alunos e se finge de morto, ao abrir os olhos é beijado por Klara. Por repreendê-la ainda que de forma cuidadosa, ela experimenta um sentimento de rejeição. Logo depois dessa situação, Klara conta à diretora da escolinha que Lucas mostrou seu órgão genital para ela, dando a entender que ele tenha cometido abuso sexual. A diretora o afasta de suas atividades, comunica o ocorrido aos pais e toda comunidade escolar, e em pouco tempo essa notícia se espalha pela pequena cidade, tendo como consequência uma perseguição sem precedentes contra Lucas, até que isso é levado à delegacia e ele começa a responder criminalmente pelo abuso não só contra Klara, mas contra outras crianças. 
A atuação de Lucas é introspectiva, sofrida, sentida e muitas vezes silenciosa. Um dos momentos mais dolorosos do filme é quando Markus, seu filho, foge da casa da mãe e vai visitá-lo e o encontra em meio ao vendaval em que sua vida se transformou, assim como o pai, Markus sofre da exposição pública à agressão física por tentar defendê-lo e preservar sua imagem.
O enredo do filme nos leva a entrar em contato com o que nós temos de pior: o contágio do mal. Somos capazes de nos organizar em grupo de uma maneira extremamente inconsequente e destruir a vida de uma pessoa ou de uma família. Afinal, quantas vidas já destroçamos meramente como expectadores? Quem nunca levou uma pessoa aos tribunais, a julgou e condenou? Todos nós já fizemos isso, numa proporção menor ou maior, mas já fizemos. Às vezes uma coisa dita de uma forma inesperada ou impensada se torna uma verdade absoluta e irremediável. 
Quantas  Suzanes, Nardones, Brunos, mesmo sem nunca ter tido nenhuma prova que de fato pudéssemos ter noção de toda "verdade',   nós condenamos antes mesmo deles serem julgados pela justiça, só pelo o que ouvimos da mídia ou do vizinho, colegas e amigos? Em todos esses casos de comoção nacional, ou até mesmo internacional, eu me questiono, o que seria dessas pessoas se elas fossem inocentes? Até que ponto uma pessoa que comete um crime pode ser execrada socialmente, já que utilizamos do sentido da justiça para puni-la como maneira de reintegrá-la ao meio social depois do cumprimento da pena? Para nós, de uma maneira geral, uma vez cometido devido crime, o delinquente é proibido eternamente de voltar à sociedade, é um caso perdido, ainda que a lei e a justiça tenha como função puni-lo e regenerá-lo.
O filme traz o outro lado da moeda e de certa forma coloca em cheque nossa confiança em quem somos e de nossa capacidade dubitativa de agir com bondade. O nome do filme A caça obedece uma dicotomia de sentidos, ao mesmo tempo em que nos traz como seres humanos capazes de caçar animais irracionais, nos tornamos caça também da nossa racionalidade humana.

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