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sábado, 3 de maio de 2014

A "publicidade da igualdade racial" pode funcionar?




Mesmo atrasada, eu quero falar sobre a polêmica #somostodosmacacos. Atrasada em dar uma opinião pública, não em acompanhar tudo que se vem dizendo a respeito e nem atrasada no pensamento. E minha opinião só veio agora porque, em meio a essa polêmica, eu fiquei confusa, confusa em relação aos benefícios, aos malefícios, enfim, no calor de tudo é complexo demais ser sensato, especialmente se você é parte do problema/solução.
Houve duas situações completamente diferentes, mas que uma foi consequência da outra.
A primeira foi o fato de Daniel Alves ter comido a banana. Muitas pessoas criticaram de forma negativa, outros acharam o máximo. Eu, particularmente, gostei. Gostei porque aquela situação, por mais que reflita coletivamente, foi individual e ele resolveu, porque foi atingindo diretamente a ele, da forma que mais lhe pareceu sensata no momento. Isso significa que é para comermos todas as bananas racistas que nos são lançadas? Não, óbvio! Mas naquele momento o "comer a banana" foi a melhor resposta que ele deu do lugar dele e por ele. Ponto.
A segunda situação foi Neymar lançar a campanha somostodosmacacos, a qual a mídia divulgou como sendo produto de uma agência publicitária. Isso já não é uma atitude individual. Ele, além de não ter sido a vítima diretamente, atingiu exponencialmente o coletivo com sua campanha, atingiu todos os negros. Ademais de não ter propriedade para falar em nosso nome, uma vez que não se vê como negro e nem ocupa, ideologicamente, a posição de um, em nenhum aspecto. Ele assumiu um lugar que é institucional, que institucionaliza ideologias. Mas se você sair perguntando por aí qual negro quer ser chamado de macaco, quantos vão dizer que sim? E dizer que somos todos macacos não é verdade, não somos. Ivete não é macaca, Angélica, Luciano Huck etc, tampouco são macacos. Eles são brancos, nunca serão visto como macacos. Ser chamado de macaco está ligado ideologicamente a fatos históricos, marcados pela raça, que tinham como advento situar o local de inferioridade do povo negro. É lógico que não vou dizer que não pode haver solidariedade por parte dos "publicitários da igualdade", mas há que se tomar muito cuidado. Talvez tenha havido uma tentativa de ressignificação da palavra, como se tentou fazer com #somostodasvadias, mas ainda assim, por mais que centenas de mulheres escrevam em cartazes, pelo corpo e levantem essa bandeira, na prática mulher nenhuma quer ser chamada de vadia nas ruas ou em circunstâncias que marquem um local de subalternidade.
A campanha, diferente da atitude de Daniel Alves, funcionou como um desserviço social, uma vez que pode reforçar os estereótipos negativos e os equívocos ideológicos. O que se pode contar de positivo é o fato de colocar em discussão a questão do racismo.
Para além de solidariedade inconsciente, precisamos falar por nós mesmos e em primeira pessoa e do nosso lugar, lugar de negros que somos.

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