Mesmo atrasada, eu
quero falar sobre a polêmica #somostodosmacacos. Atrasada em dar uma opinião
pública, não em acompanhar tudo que se vem dizendo a respeito e nem atrasada no
pensamento. E minha opinião só veio agora porque, em meio a essa polêmica, eu
fiquei confusa, confusa em relação aos benefícios, aos malefícios, enfim, no
calor de tudo é complexo demais ser sensato, especialmente se você é parte do
problema/solução.
Houve duas situações
completamente diferentes, mas que uma foi consequência da outra.
A primeira foi o fato
de Daniel Alves ter comido a banana. Muitas pessoas criticaram de forma
negativa, outros acharam o máximo. Eu, particularmente, gostei. Gostei porque
aquela situação, por mais que reflita coletivamente, foi individual e ele resolveu,
porque foi atingindo diretamente a ele, da forma que mais lhe pareceu sensata
no momento. Isso significa que é para comermos todas as bananas racistas que
nos são lançadas? Não, óbvio! Mas naquele momento o "comer a banana"
foi a melhor resposta que ele deu do lugar dele e por ele. Ponto.
A segunda situação foi
Neymar lançar a campanha somostodosmacacos, a qual a mídia divulgou como sendo
produto de uma agência publicitária. Isso já não é uma atitude individual. Ele,
além de não ter sido a vítima diretamente, atingiu exponencialmente o coletivo
com sua campanha, atingiu todos os negros. Ademais de não ter propriedade para
falar em nosso nome, uma vez que não se vê como negro e nem ocupa,
ideologicamente, a posição de um, em nenhum aspecto. Ele assumiu um lugar que é
institucional, que institucionaliza ideologias. Mas se você sair perguntando
por aí qual negro quer ser chamado de macaco, quantos vão dizer que sim? E
dizer que somos todos macacos não é verdade, não somos. Ivete não é macaca,
Angélica, Luciano Huck etc, tampouco são macacos. Eles são brancos, nunca serão
visto como macacos. Ser chamado de macaco está ligado ideologicamente a fatos
históricos, marcados pela raça, que tinham como advento situar o local de
inferioridade do povo negro. É lógico que não vou dizer que não pode haver
solidariedade por parte dos "publicitários da igualdade", mas há que
se tomar muito cuidado. Talvez tenha havido uma tentativa de ressignificação da
palavra, como se tentou fazer com #somostodasvadias, mas ainda assim, por mais
que centenas de mulheres escrevam em cartazes, pelo corpo e levantem essa
bandeira, na prática mulher nenhuma quer ser chamada de vadia nas ruas ou em
circunstâncias que marquem um local de subalternidade.
A campanha, diferente
da atitude de Daniel Alves, funcionou como um desserviço social, uma vez que
pode reforçar os estereótipos negativos e os equívocos ideológicos. O que se
pode contar de positivo é o fato de colocar em discussão a questão do racismo.
Para além de
solidariedade inconsciente, precisamos falar por nós mesmos e em primeira
pessoa e do nosso lugar, lugar de negros que somos.
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