Isso me interessa!
terça-feira, 10 de junho de 2014
domingo, 1 de junho de 2014
Não vou torcer pelo Brasil porque sou uma recalcada
Meu pensamento, e sentimento, contrário à Copa não é crítico,
é passional. Cheguei à conclusão, enquanto passeava com uma amiga hoje durante
a tarde enquanto ela falava empolgada de como ia torcer pelo Brasil, que meu
estado de chateação é puramente pautado no recalque. Sabe quando você é
adolescente e se apaixona pelo garoto mais bonito do colégio e ele faz pouco
caso de você? Não sabendo lidar com essa rejeição você passa a nutrir sentimentos
ruins por ele, a falar mal e chamá-lo de babaca para suas amigas e para todo
mundo que estiver disposto a te ouvir? É esse mesmo sentimento que eu sinto
agora, apesar de nunca ter me apaixonado pelo garoto mais bonito do colégio.
Quando, em 2006, o Brasil
perdeu o jogo, o qual muitos diziam, e ainda dizem, que fora vendido, eu chorei cântaros,
eu fiquei extremamente magoada, desapontada e decepcionada. Desde aquele
momento eu não consegui mais torcer pela seleção brasileira. Vê-la perder era
uma forma de nutrir sentimentos ruins e aplacar o recalque que eu sentia. Na
minha cabeça não existia a máxima: não da para ganhar sempre! Eu achava o
Brasil muito capaz e vê-lo derrotado, vergonhosamente, daquela forma me
maltratou muito.
Em 2010 eu não assisti a um jogo sequer, mas toda vez que ficava
sabendo que o Brasil tinha tomado um gol aquilo tornava legítimo minha posição
de dona da razão e me afastava do verdadeiro motivo: recalque. O Brasil perdeu
e eu, feito criança, dizia: bem pouco, bem feito. E ri, ri muito, maleficamente.
Eu ainda não o tinha perdoado.
Já em 2008 o Brasil foi aceito para sediar a Copa, eu fiquei
feliz, mas não com a possibilidade de vê-lo ganhar, e sim pelas promessas do
governo na época (legado da copa): que nosso país ia melhorar, ia ter mais metrôs, mais
mobilidade urbana, mais incentivo na educação com cursos para aprendizagem de
um idioma etc. Eu, não mais com a paixão torcedora, mas cívica, pensei:
"bom, eles não vão querer rachar nossa cara de vergonha e não cumprir com
o combinado”. E o mais legal, na minha cabecinha oca, é que a promessa, melhor
promessa nessa história toda, é que tudo ia ser feito com 90% de incentivo das
empresas privadas e somente 10% seria patrocinado pelo governo. Lembram do trem
bala que ia de Sampa ao Rio? Uaaaau! Eu vidrei naquilo.
Eis que seis anos se passaram e mais uma vez me sinto
"traída" pelo meu Brasil, pois acho que nem 10% do prometido foi
cumprido. Aliás, os 10% foi invertido para 90%, afinal hoje é nosso governo que
banca praticamente a Copa da Fifa. Inventaram legislação da Copa e esta tem por
objetivo defender os direitos dos "torcedores" estrangeiros e tentar,
minimamente, enganar as lentes jornalísticas do mundo, ainda que para isso os
moradores de rua dos centros de Salvador sejam "diasporizados" para a
BR 324 para não "fazermos" feio na Copa e mostrar o quão desumanos e
injustos, socialmente, nós somos, nosso governo é. Então para o bem da Copa, quem
representa ameaça a seu sucesso será periferizado. No caso você, eu e todos os
recalcados.
Agora, em 2014, faltando menos de 15 dias para o Brasil
entrar em campo eu ainda não consigo torcer por ele. E nem é porque eu acho que
esse dinheiro todo deveria ser investido em educação, segurança e saúde, pois
dinheiro para isso nunca faltou, o que falta nessa questão são outras coisas.
Eu tenho raiva (recalque) porque fui traída na minha paixão pelo esporte e no
meu direito de cidadã. Prometeram-me mundos e fundos e eu acreditei. Perdi os
mundos, os fundos e minha crença. É por essas e por outras, que ainda não te
perdoei e nem vou torcer por você nessa Copa, Brasil. Afinal me assumo:
recalcadaaa!
Salvador, 31 de maio de 2014.
Josane Silva Souza
sexta-feira, 16 de maio de 2014
Rádio: minha oitava maravilha!

Eu sou aficionada por rádio. Acho que é herança de infância. Lá em casa se ouvia muito, inclusive quando meu pai ainda vivia com a gente. Lembro-me bem de que meu primeiro contato com novelas foi através do rádio, pois naquela época não tínhamos televisão, aliás, televisão era um adorno caro e inacessível. As interpretações eram magnânimas. Eu ficava criando cada cenário, cada contexto através daquelas vozes, quase sempre tão bonitas. Lembro-me também de um rádio que fez história lá em casa. Era preto, com uma antena enorme e tinha um botão que engrenava quando girávamos. Era da minha irmã, mas ele foi sendo repassado de irmã mais velha para irmão mais novo e durou anos, até que compramos um som Gradiente, mas ainda assim não era o disco de vinil que fazia nossa cabeça, era a rádio. Meu irmão inclusive virou radialista. Tinha um programa ao meio dia denominado Relex e seu apelido era Máskara, pois todo mundo na cidade, especialmente as mulheres, era encantado pela voz dele. Grossa. Bonita. Charmosa. Mas quando o conheciam estranhava, pois era bem novinho e com aquele vozeirão. Por essa afinidade com rádio sempre quis trabalhar em uma, acho que ia ser fruidor. Essa mesma afinidade define a compra de meus celulares, pois só os compro se tiver rádio.
sábado, 3 de maio de 2014
A "publicidade da igualdade racial" pode funcionar?
Mesmo atrasada, eu
quero falar sobre a polêmica #somostodosmacacos. Atrasada em dar uma opinião
pública, não em acompanhar tudo que se vem dizendo a respeito e nem atrasada no
pensamento. E minha opinião só veio agora porque, em meio a essa polêmica, eu
fiquei confusa, confusa em relação aos benefícios, aos malefícios, enfim, no
calor de tudo é complexo demais ser sensato, especialmente se você é parte do
problema/solução.
Houve duas situações
completamente diferentes, mas que uma foi consequência da outra.
A primeira foi o fato
de Daniel Alves ter comido a banana. Muitas pessoas criticaram de forma
negativa, outros acharam o máximo. Eu, particularmente, gostei. Gostei porque
aquela situação, por mais que reflita coletivamente, foi individual e ele resolveu,
porque foi atingindo diretamente a ele, da forma que mais lhe pareceu sensata
no momento. Isso significa que é para comermos todas as bananas racistas que
nos são lançadas? Não, óbvio! Mas naquele momento o "comer a banana"
foi a melhor resposta que ele deu do lugar dele e por ele. Ponto.
A segunda situação foi
Neymar lançar a campanha somostodosmacacos, a qual a mídia divulgou como sendo
produto de uma agência publicitária. Isso já não é uma atitude individual. Ele,
além de não ter sido a vítima diretamente, atingiu exponencialmente o coletivo
com sua campanha, atingiu todos os negros. Ademais de não ter propriedade para
falar em nosso nome, uma vez que não se vê como negro e nem ocupa,
ideologicamente, a posição de um, em nenhum aspecto. Ele assumiu um lugar que é
institucional, que institucionaliza ideologias. Mas se você sair perguntando
por aí qual negro quer ser chamado de macaco, quantos vão dizer que sim? E
dizer que somos todos macacos não é verdade, não somos. Ivete não é macaca,
Angélica, Luciano Huck etc, tampouco são macacos. Eles são brancos, nunca serão
visto como macacos. Ser chamado de macaco está ligado ideologicamente a fatos
históricos, marcados pela raça, que tinham como advento situar o local de
inferioridade do povo negro. É lógico que não vou dizer que não pode haver
solidariedade por parte dos "publicitários da igualdade", mas há que
se tomar muito cuidado. Talvez tenha havido uma tentativa de ressignificação da
palavra, como se tentou fazer com #somostodasvadias, mas ainda assim, por mais
que centenas de mulheres escrevam em cartazes, pelo corpo e levantem essa
bandeira, na prática mulher nenhuma quer ser chamada de vadia nas ruas ou em
circunstâncias que marquem um local de subalternidade.
A campanha, diferente
da atitude de Daniel Alves, funcionou como um desserviço social, uma vez que
pode reforçar os estereótipos negativos e os equívocos ideológicos. O que se
pode contar de positivo é o fato de colocar em discussão a questão do racismo.
Para além de
solidariedade inconsciente, precisamos falar por nós mesmos e em primeira
pessoa e do nosso lugar, lugar de negros que somos.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
SOU PRECONCEITUOSA RACIAL. GRAÇAS A DEUS...
Sou preconceituosa racial. Graças a Deus assumo essa minha condição social (mentira minha, Deus não tem nada a ver com isso). Isso mesmo, racismo é uma condição, deixar de construí-lo é um exercício cotidiano e doloroso, é você sair do seu lugar, se descentralizar e perceber-se parte de uma sociedade tirana que não se faz só, se faz com nós e a partir de nós. O racismo só será superado quando, antes de tudo, ele for assumido por cada indivíduo e em posse disso decidir que é hora de transcender essa estrutura cristalizada e viral.
Eu sou negra e decidida a não ser, a não ser racista. Mas sou traída por uma educação que deu certo. Desde pequena eu ouvi: “é negro? É ladrão, é bandido, é aproveitador, é cafajeste, é a escória social!”; “é negro? Está numa rua deserta? Atravesse! Ele vai te assaltar”; “é negra? É mulher fácil, é feia, não é para casar, é aproveitadora!”. Proclamação em menor escala, pois poderia citar exemplos piores que minha audição vem registrando.
Eu não sou diferente, gente. Eu não sou superior. Mas me orgulho de assumir meus fracassos diante disso. Sempre fui otimista e até costumo dizer que a maioria das pessoas racistas que eu conheço não é assim porque gosta, porque é má, porque é bom. Elas o são porque mais de 500 anos de “civilização” escravocrata engessa mentes, engessa gentes. O racista “fudido” é aquele que sabe de sua condição de racista e nega o discurso, nega o posicionamento. Assume a inércia. Eu não tenho vergonha de assumir para mudar, para transcender, para transgredir. Por isso vou contar um causo que ocorreu ontem comigo - mulher negra.
Fui assistir, pela terceira vez, ao Espetáculo Cabaré da RRRaça do Bando de Teatro Olodum, cheguei cedo, queria sentar em um lugar privilegiado, pois um amigo querido atua nessa temporada. Antes de ir ao Café do Teatro, havia um homem, que libera a entrada do público, na porta que dá acesso à sala principal, ele estava de camisa preta com o nome do teatro atrás, calça jeans e tênis. A maioria da equipe de apoio do Vila Velha é negra. Ok. Quando retornei, ele não estava mais lá, desci, fui à bilheteria checar se havia mais ingressos e ao retornar, havia na entrada outro homem, agora de frente, também negro, de blusa preta, de jeans e tênis. Eu nem refleti, nem pensei:
-Que horas vocês vão liberar a entrada?
-Oh desculpe, eu não faço parte de nada não!
-Desculpe...
Fiquei arrasada, demasiadamente arrasada. Chorosa até. Como é que eu ia entrar agora para assistir à peça? Eu fiz o que sempre fizeram comigo, confundi o homem que ia assistir à peça com o segurança. No meu caso confundiam com a empregada doméstica ou com a mulher disponível. Ainda confundem.
Desabafando com amigos, a maioria disse: “Zane, calma! Você não tinha como prever.” Ok. Realmente, não sei se teria. Mas eu assumo que se fosse um homem branco, de camisa preta, de calça jeans e de tênis, eu não o teria confundido, quase certa que não.
O rapaz me desculpou, ele viu meu olhar de fracasso, de desespero. Mas eu não me perdoo, ainda não consigo.
Relato esse fato para mostrar às pessoas que eu, mulher negra, que luta e enluta contra o racismo ferrenhamente, fui traída por uma educação que deu certo. Mas assumo, por acreditar que é isso que me faz acordar todo dia e decidir não ser racista e, talvez assim, estimular que muitas pessoas acordem, também, todos os dias com esse mesmo propósito social. Enfiar uma faca no racismo a fim de mata-lo é uma DECISÃO que muitos não estão dispostos, com isso, ver o sangue brotar...
sexta-feira, 28 de junho de 2013
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