Enquanto estava na avenida eu prometi a mim mesma que iria
escrever sobre as sensações que tive ao observar por alguns momentos a
figuração momesca. As situações mais absurdas vão desde ver crianças, a maioria
negra, trabalhando horrendamente, a mulheres sendo agredidas nas formas mais
diversas. Em uma dessas situações onde eu vi uma criança negra trabalhando de
catador de latas, eu comentei como aquilo era absurdo, e a dona da lanchonete
onde eu estava no final do percurso disse que quando uma criança trabalha de
atriz na televisão é considerado normal, mas aquelas crianças não podem catar
latinha. Como se tivesse comparação, não é minha gente? Eu fico com o direito da
criança brincar, ter acesso à educação, saúde e a uma família que a ame, cuide
e respeite. Isso no Brasil está complicado,
no nosso estado mais ainda.
Em um dos dias que estava observando a passagem do bloco que
tocava a banda Asa de Água, eu fiquei em choque quando reparei que todas os
cordeiros que pude contar, exatamente todos, eram negros, que pela conversa,
forma de tratamento, existiam famílias trabalhando ali, de adolescentes de 16
anos a senhoras de mais de 50 anos. Foi estarrecedor. Quando procurei pessoas
negras pulando dentro do bloco, eu não vi nenhuma, nesse momento, nesse bloco,
eu não vi. A cena se repetiu praticamente com todos os 5 blocos que vieram
depois e eu fugi da avenida, entre lágrimas, eu fugi. Aquilo era a
materialização da minha neurose tão julgada tantas vezes por meus amigos: “racismo?
Para com isso amiga, isso é loucura, não existe mais, vivemos num país
democrático, longe da escravidão”.
Não, ele existe sim. Ele me beliscou e me torturou enquanto eu
estava no bloco Afropop, chegamos ao
final do percurso e a Band fez uma homenagem pelos 25 anos de carreira de Margareth
Menezes, responsável por levar o bloco. A dançarina da Band que ficava em um lugar de destaque no camarote, reservado exclusivamente para ela, era loira,
extremamente magra, não tinha a ginga do nosso samba, não tinha nossa carga
cultural. Eu olhei para o lado e tinha um homem igualmente branco e perguntei:
-Ela é bonita?
-Quem?
-A moça, aquela lá em cima. Ela é bonita?
Ele olhou, olhou e olhou e disse-me:
-Não, ela é muito produzida. Por quê?
-Porque ela não me representa. Ela não representa 80% da
população baiana, mas é ela quem está lá.
Ele olhou para ela, me olhou novamente, olhou meus cabelos
cacheados, meu rosto e meu jeito e disse:
-Tá vendo Mariene de Castro ali? Ela sim te representa.
Fiquei feliz com aquilo e segui o percurso do bloco. Ao final
olhei para Margareth um tempão até ela me olhar de volta lá de cima do trio e
gritei:
-Você me representa.
Ela abriu um sorrisão e deu joinha!
Olá boa reflexão, mas tenho algumas coisas a pontuar.
ResponderExcluirPorque o trabalho de uma criança na TV tem menos caráter de violação dos direitos da infância do que uma criança que trabalha na rua? Em que consiste seu critério para dizer que uma criança que trabalha em um ou em outro lugar está mais ou menos repreensível? O trabalho infantil deve ser extirpado da sociedade em todos os níveis. Existe um universo imaginário acerca do mundo televiso que deve ser desconstruído. Trabalhar na TV não tem nada de mais digno quando essa(e) trabalhadora(or) é uma criança. As jornadas de trabalho as vezes chegam a 12 horas, entre estar no estúdio, gravar, ensaiar, fotografar, participar de programas diversos e as demais atividades que sabemos ser pertinentes a uma pessoa que escolhe se tornar uma 'figura pública'. Criança tem que se desenvolver do modo mais lúdico que seja possível e a carga de qualquer emprego de sua força de trabalho de modo não criterioso será prejudicial.
Estou de acordo com você e jamais defendia trabalho infantil em qualquer instância, no entanto convenhamos que a maioria das crianças que trabalha na tv tem o auxílio do pai ou de uma mãe presente, a maioria tem uma estrutura de vida que difere totalmente de uma criança que trabalha na rua em pleno carnaval à noite catando latas. Todas as duas situações são ruins, mas uma consegue ser pior que a outra!
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