Isso me interessa!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

...O carnaval não tem fim!



Enquanto estava na avenida eu prometi a mim mesma que iria escrever sobre as sensações que tive ao observar por alguns momentos a figuração momesca. As situações mais absurdas vão desde ver crianças, a maioria negra, trabalhando horrendamente, a mulheres sendo agredidas nas formas mais diversas. Em uma dessas situações onde eu vi uma criança negra trabalhando de catador de latas, eu comentei como aquilo era absurdo, e a dona da lanchonete onde eu estava no final do percurso disse que quando uma criança trabalha de atriz na televisão é considerado normal, mas aquelas crianças não podem catar latinha. Como se tivesse comparação, não é minha gente? Eu fico com o direito da criança brincar, ter acesso à educação, saúde e a uma família que a ame, cuide e respeite.  Isso no Brasil está complicado, no nosso estado mais ainda.
Em um dos dias que estava observando a passagem do bloco que tocava a banda Asa de Água, eu fiquei em choque quando reparei que todas os cordeiros que pude contar, exatamente todos, eram negros, que pela conversa, forma de tratamento, existiam famílias trabalhando ali, de adolescentes de 16 anos a senhoras de mais de 50 anos. Foi estarrecedor. Quando procurei pessoas negras pulando dentro do bloco, eu não vi nenhuma, nesse momento, nesse bloco, eu não vi. A cena se repetiu praticamente com todos os 5 blocos que vieram depois e eu fugi da avenida, entre lágrimas, eu fugi. Aquilo era a materialização da minha neurose tão julgada tantas vezes por meus amigos: “racismo? Para com isso amiga, isso é loucura, não existe mais, vivemos num país democrático, longe da escravidão”.
Não, ele existe sim. Ele me beliscou e me torturou enquanto eu estava no bloco Afropop,  chegamos ao final do percurso e a Band fez uma homenagem pelos 25 anos de carreira de Margareth Menezes, responsável por levar o bloco. A dançarina da Band que ficava em um lugar de destaque no camarote, reservado exclusivamente para ela, era loira, extremamente magra, não tinha a ginga do nosso samba, não tinha nossa carga cultural. Eu olhei para o lado e tinha um homem igualmente branco e perguntei:
-Ela é bonita?
-Quem?
-A moça, aquela lá em cima. Ela é bonita?
Ele olhou, olhou e olhou e disse-me:
-Não, ela é muito produzida. Por quê?
-Porque ela não me representa. Ela não representa 80% da população baiana, mas é ela quem está lá.
Ele olhou para ela, me olhou novamente, olhou meus cabelos cacheados, meu rosto e meu jeito e disse:
-Tá vendo Mariene de Castro ali? Ela sim te representa.
Fiquei feliz com aquilo e segui o percurso do bloco. Ao final olhei para Margareth um tempão até ela me olhar de volta lá de cima do trio e gritei:
-Você me representa.
Ela abriu um sorrisão e deu joinha! 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013


A Falácia Masculina do Homem  “Pós-moderno”


Tem algum tempo que venho observando o comportamento do homem “pós-moderno” a partir de alguns relacionamentos amorosos meus e de minhas amigas. E cheguei à conclusão que a infelicidade tomou conta, não vejo nem Maria e nem João satisfeitos, vejo sofreguidão e faz de conta, mas como não quero concluir o meu pensamento na introdução, já que literariamente isso não é corente, vou ser coesa com minha proposição ao estar aqui.
A modernidade é uma falácia, ela conseguiu extinguir o que tinha de positivo nos homens das cavernas e manteve tudo que nós, mulheres, repudiamos. Hoje em dia além de termos a obrigação de ser feminina, temos também de ser masculinas, porque aquelas situações problemáticas de relacionamentos que o homem alpha chegava e resolvia, agora somos nós que resolvemos. O homem conseguiu ser antagonista de si mesmo, e nós, frustradamente, estamos cada dia mais protagonistas do mundo de Alice, e pior, sem coelho e nem cachola.
A música melódica que Paula Toller canta “Você me tem fácil demais, mas não parece capaz, de cuidar do que possui, você sorriu e me propôs, que eu te deixasse em paz, me disse vai, e eu não fui”,  representa nada mais do que o homem que não sabe o que quer, porque não dá para abandoná-lo com carinha de cachorro que se perdeu na mudança, infelizmente aquele negócio de maternidade ainda nos sensibiliza e nos escraviza, mas a culpa é nossa também, não isento ninguém da culpabilidade dos fracassos.
O que vejo muitas mulheres reclamando hoje em dia é que foram educadas para lidar com um tipo de homem, e caiu de paraquedas um homem “pós-moderno” na sua frente e agora tem que desconstruir toda uma vida se quiser ser “feliz” numa relação amorosa monogâmica ou poligâmica, porque tem estilo e gosto para todos, basta querer uma aventura entre o ser e o não ser.
Eu queria que a teoria tão pregada por Stuart Hall ao afirmar que o sujeito moderno vive uma descentralização de identidade não chegasse ao homem masculino, pois lidar com anos de inúmeras repressões e ainda ter que pedir ao “alpha” para f...ou sair de cima não foi o que nós sonhamos para o século 21.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A modernidade chegou, e o que muda nos relacionamentos?

Se pensarmos na firme batalha que as mulheres travaram para conseguir um lugar ao sol, foi alcançado de fato muitas coisas, que as vezes chega até a assustar quando escutamos histórias de avós, tias idosas ou até mesmo dos homens mais vividos, o que na percepção deles se tornou a grande mulher independente.  No entanto, a partir do meu ponto de vista, a mulher conseguiu agregar mais funções para a sua vida, pois percebemos que houve um avanço muito forte na forma como a mulher lida hoje com as questões de trabalho, família, amigos e casamento. A mulher casada sai do lar, onde cozinha, lava, passa, cuida das crianças e do marido, e ganha o mundo, se torna presidente, chefe, coordenadora, entre outros coisas....mas a mulher volta para casa ao final do dia, e o que a espera? A mesma casa que ela deixou, precisando das mesmas ações que antes ela e só ela concebia, pois por mais que não seja ela que coloque a mão na massa, que limpe, que passe e que organize, é ela quem delega essas funções a alguém, é ela quem vai para a reunião de pais e mestres na escola dos filhos,  e nesse cenário o homem deixa de ser o progenitor e passa a ser coadjuvante. Todavia,  por mais que rejeitamos maridos mimados  e incapazes de dividir as atividades do lar, grande parte de nós continuamos a criar nossos filhos homens da mesma forma que criaram nossos maridos, ou seja, não estamos pensando nas mulheres do futuro, no choque que a educação fora da perspectiva social nos trará. Queremos que o homem lave o prato depois de comer, que não suje o banheiro, mas continuamos a perpetuar dentro de nossos lares que isso quem deve fazer são nossas filhas, ou quantas vezes já ouvimos: "isso não é coisa de homem", "sai da cozinha que você não é mariquinha"  ou "sua mulher não sabe lavar roupa, não?!". É bem verdade que para grande parte de nós mulheres o casamento deixou de ser prioridade, hoje em dia nós não pensamos mais nisso como uma salvação para nossas vidas, nos preocupamos mais com nossa formação profissional, com estudos, viagens e só depois disso vem o casamento, e se não vier também, tudo bem...."a mulher moderna nunca está só, nunca está carente, é sempre convidada para jantares, saídas, boates", e antes de eleger um homem, este vai passar pelo crivo nada sutil utilizado por nós, pois vamos comparar o nosso nível social e intelectual  com o dele, se esse homem vai ser capaz de nos tirar do chão emocionalmente, e mesmo que a gente  já tenha tudo materialmente se ele vai corresponder as nossas expectativas financeira, e por fim, se esse homem vai nos satisfazer sexualmente. O certo é que a mulher parou de se iludir tanto e passou a enxergar mais os detalhes, seus pontos fortes e não se deixa mais sofrer de desamor, agora em grande parte dos casos é o homem que liga 500 vezes, que chora  e perde perdão, mesmo quando está certo. Entretanto ainda é certo que  educamos nossos filhos  diferente do que queremos em nossos maridos, mas grande parte de nós já nos conscientizamos e deixamos de ser "mamães" deles e aceitamos o papel cênico de companheira protagonista....

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O diabo mora nos detalhes.....

Atualmente escrevo muito sobre o racismo e as questões que o cerca, e hoje não fugirei a regra. Bem, nos últimos tempos tenho estudado muito sobre toda essa construção sócio-cultural, e quando você está aprofundando muito em um tema, você tende a encontrá-lo e percebê-lo de forma mais fecunda que o habitual, então entendo que por isso tenho que dar crédito a algumas situações não tão agradáveis que presencio. Em alguns casos o que mais me chama a atenção é o choque que as pessoas de uma maneira geral tem ao ler ou escutar a palavra "racismo", cria-se um pânico, cria-se uma intolerância à discussão, são tantas as verdades, e principalmente, os donos da verdade, que é muito difícil haver uma discussão profícua e construtiva. A colonização deixou marcas quase eternas no povo brasileiro, e o mais impressionante é como as situações foram sendo construídas e conduzidas, saímos de uma prática racista direta e ofensiva, para uma prática dissimulada e não tão menos ofensiva, pois o que vemos hoje no nosso país é que as pessoas tem "preconceito" do preconceito, e isso faz com que seja cada vez mais difícil combatê-lo, pois a partir do momento que não se assume, logo não teremos por onde de fato começar. A questão da intolerância é algo tão presente quanto o racismo, é que para algumas pessoas, como elas acham que não são racistas, não veem porque falar sobre, acham que quando é provocado para a discussão, é porque a pessoa que assim o faz, tem algum transtorno ou é auto-racista, no entanto quantas vezes eu ouvi uma amiga dizer: "Ai, nunca peguei um negão, preciso pegar, dizem que a pegada é diferente dos outros, é mais afrodisíaco", diferente? E por que? É só pensar.... e tem gente que vai dizer que eu sou maluca por enxergar um discurso racista, que ela na verdade está valorizando os atributos do homem negro, todavia na minha opinião e o que a História Geral do Brasil me ensinou é não, não mesmo, pois mais uma vez é afirmado que o homem negro serve para atender ao apelo sexual, assim como fazem com as mulheres negras, ou não percebemos isso quando escutamos o pagode baiano, "pegada de africano"? (vide vídeo). Os negros foram estigmatizados como objeto sexual, e esses discursos que agora vem para "valorizar" seus atributos, é na verdade uma massificação dessa ideologia racista que agora é tão velada e sutil. Bom, mas se você diz a essa pessoa que dissemina esses discursos que isso é uma forma de postergar o racismo, você é taxado como lunático, como negro descompreendido......então o que fazemos para achar a cura se nem falar sobre a doença é possível?? Abro para o debate....

sábado, 28 de janeiro de 2012

Uma explicação aristotélica para as cotas raciais.......

Quando se discute as cotas raciais, gera-se muita polêmica a despeito do que é justo ou não nessa medida adotada pelo estado brasileiro, há quem diga que é uma forma de discriminar e há quem diga que é uma forma de devolver àquilo que foi tirado dos negros no período escravagista. O certo é que não há um consenso por parte das pessoas envolvidas na questão, seja por um interesse contrário ou a favor. Dessa forma, se faz necessário discutir então noções de justiça, e para isso podemos utilizar de dois modelos desenvolvidos por Aristóteles:
         -Justiça Distributiva: é a distribuição ou repartição de acordo com os méritos de cada um;
         -Justiça Corretiva: repositória (indenização/reparação de dano) ou comutativa (visa igualar as prestações).
Diante dessas duas ideias aristotélicas de justiça, entendemos que o estado brasileiro está em suma reparando um dano causado à população afro-descendente por quase 4(quatro) séculos de escravidão, e mais de 1(um) século de desigualdade étnica, levando em consideração ainda, que o estado brasileiro, tampouco o estado português, não indenizaram os negros, como ocorreu com outros povos dizimados, como é o caso dos judeus - vítimas do holocausto, ou das vítimas da ditadura militar, que receberam e recebem até hoje uma indenização. O Brasil trabalha somente com reparação de direitos(acesso a educação,  reconhecimento da cultura africana e afro-brasileira, etc), pois existiu constitucionalmente leis que diferiam veemente um negro de um branco, inclusive o Decreto 7031/1878, onde   o negro só podia estudar pela noite, e até hoje existe de certa forma resquícios disso e pode ser constatado a olho nu, quando entramos em escolas que também trabalham com ensino no horário noturno a presença esmagadora de pessoas negras, e para perceber essas e outras  realidades históricas que se procrastinam  até a atualidade e quiçá daqui a anos, é só relembrar a História Geral do Brasil, tanto estudada no ensino secundarista, de como se deu a construção de nossa nação.
É com essa explicação, que tanto as pessoas não usuárias das cotas, quanto as que se utilizam desse direito, precisam entender que o estado não está oferecendo uma esmola ou está discriminando ainda mais os afro-descendentes, e sim que está reparando um erro que ele mesmo cometeu ao longo dos anos, pois a partir do conceito de justiça se entende que não deve tratar os desiguais de forma igual, pois por mais que a ciência defenda que fenotipicamente todas as pessoas são iguais e pertencentes de uma mesma raça - a raça humana, há fatores culturais e históricos que determinam e demarcam que uma pessoas com características branco-europeia tenha o Índice de Desenvolvimento Humano(IDH) e a cultura - entre outros fatores -, superior à pessoas com características africanas, ou seja, os aspectos físicos assentam quem é uma pessoa e o que pode dentro da sociedade, e é pautado nessas questões que é válido em caráter de legalidade e justiça, o regime de cotas. E para exemplificar a disparidade que há entre brancos e negros atualmente no Brasil com relação a acesso ao nível superior, há pelos menos 5 milhões de universitários, no entanto, mesmo formando 45% da população brasileira, somente 8,7% desses estudantes são negros.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Olho por olho e o mundo fica cego...

Dia desses voltando para casa, presencio mais uma cena que ocorre com frequência em Salvador: três jovens com as mãos na cabeça, pernas abertas, negros, de costas para rua, com idades aparentemente entre 17 a 19 anos, rodeados por 4 ou 5 policiais militares fortemente armados, recebendo pancadas na cabeça cada um. Os jovens estavam inutilizados, mas mesmo assim os policiais, baterem e os xingaram, e depois disso eles foram libertados aos olhares tenebrosos dos curiosos que ali presenciavam a cena sem nada dizer, sem nada fazer. Em um impulso, peguei o celular na mesma hora para ligar e denunciar aquilo, mas depois que desbloqueei o teclado, me dei conta que não tinha para quem ligar, pois os marginais da vez era a própria polícia.  Bem, essa é a nossa corporação policial, e eu simplesmente não entendo porque agir assim, pois penso que a partir do momento que uma pessoa já está sob o poder da polícia, não há porque bater, não há nada que justifique isso, ou será que porque bandido mata e destrói, a polícia também tem que matar e destruir? É por isso que atualmente eu não vejo tanta diferença entre polícia e bandido, a maioria não está me servindo, protegendo meus direitos enquanto cidadã. Dessa maneira é que "olho por olho e o mundo fica cego"!!!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A mulher tem medo de ser assaltada, sequestrada e estuprada...e o homem do que tem medo?

Não vou mais falar do caso envolvendo Daniel e Monique do BBB 2012, mas sim porque esse caso, apesar de vir do BBB, me chamou tanto a atenção. Nós mulheres somos criadas numa sociedade extremamente repressora e opressora, e por mais que tentem aplacá-la, o tabu que existe em volta do ato sexual  é absurdamente demasiado, afinal fomos ensinadas que para ser a mulher ideal e admirada, temos que rejeitar o sexo, temos que ser detentoras de um discurso que para que uma mulher goste de sexo, ela tem que ser no mínimo puta, afinal se ela for corajosa suficiente e disser em um ambiente público o quanto o sexo para ela é importante, é bom e vital, a maioria que estão ali não vão conseguir olhá-la com o respeito que deveras merece, porque afinal, "que mulher proclama uma coisa dessa?" Bem, além de sermos reprimidas, ainda podemos ser vítimas de abusos sexuais, violências múltiplas contra nosso corpo e nossa mente, pois o abuso não ocorre só com o contato físico, ele ocorre quando passamos pela rua e sentimos as mais diversas manifestações de violências, como ser chamadas de gostosas, delícias, etc. É como se nós não tivéssemos o direito de escolher de que maneira queremos ser tratadas, essas manifestações são altamente gratuitas e violentas, e eu sinceramente não consigo imaginar coisa pior que essa, sem contar o ambiente de trabalho que muitas vezes somos forçadas a vivenciar situações absurdas porque precisamos de um emprego, até mesmo como forma de não ser sustentada por terceiros, pois se ficamos em casa à mercê do provimento do homem, também aceitamos uma forma de violência. Na questão física, é muito difícil para a maioria das mulheres aceitarem a liberdade do seu corpo, que ela pode se envolver sexualmente com alguém, e além da força interior que ela é ensinada a ter para rejeitar o ato sexual, há uma força externa para obrigá-la a aceitar, pois se damos liberdade ao nosso desejo sexual, somos alvo de preconceito, se nos podamos, também o somos, na verdade a sociedade machista pede uma mulher hipócrita, onde na rua seja uma "lady" e em quatro paredes uma "leoa sexual", mas ninguém pergunta que mulher de fato queremos ser, e se de fato esse mérito da questão cabe a alguém questionar ou definir. Eu li uma vez em algum lugar que o homem quando sai nas ruas ele tem medo de ser assaltado e sequestrado, e a mulher tem medo de ser assaltada, sequestrada e estuprada. Sugiro uma reflexão a despeito dos acontecimentos televisivos, e não deixemos o que realmente é importante cair em banalizações....