Isso me interessa!

sexta-feira, 16 de maio de 2014

- Não seja tão independente! A maioria dos homens não gostam de mulheres que são assim.
-Não gosto da maioria dos homens.

Rádio: minha oitava maravilha!



Eu sou aficionada por rádio. Acho que é herança de infância. Lá em casa se ouvia muito, inclusive quando meu pai ainda vivia com a gente. Lembro-me bem de que meu primeiro contato com novelas foi através do rádio, pois naquela época não tínhamos televisão, aliás, televisão era um adorno caro e inacessível. As interpretações eram magnânimas. Eu ficava criando cada cenário, cada contexto através daquelas vozes, quase sempre tão bonitas. Lembro-me também de um rádio que fez história lá em casa. Era preto, com uma antena enorme e tinha um botão que engrenava quando girávamos. Era da minha irmã, mas ele foi sendo repassado de irmã mais velha para irmão mais novo e durou anos, até que compramos um som Gradiente, mas ainda assim não era o disco de vinil que fazia nossa cabeça, era a rádio. Meu irmão inclusive virou radialista. Tinha um programa ao meio dia denominado Relex e seu apelido era Máskara, pois todo mundo na cidade, especialmente as mulheres, era encantado pela voz dele. Grossa. Bonita. Charmosa. Mas quando o conheciam  estranhava, pois era bem novinho e com aquele vozeirão. Por essa afinidade com rádio sempre quis trabalhar em uma, acho que ia ser fruidor. Essa mesma afinidade define a compra de meus celulares, pois só os compro se tiver rádio.

sábado, 3 de maio de 2014

A "publicidade da igualdade racial" pode funcionar?




Mesmo atrasada, eu quero falar sobre a polêmica #somostodosmacacos. Atrasada em dar uma opinião pública, não em acompanhar tudo que se vem dizendo a respeito e nem atrasada no pensamento. E minha opinião só veio agora porque, em meio a essa polêmica, eu fiquei confusa, confusa em relação aos benefícios, aos malefícios, enfim, no calor de tudo é complexo demais ser sensato, especialmente se você é parte do problema/solução.
Houve duas situações completamente diferentes, mas que uma foi consequência da outra.
A primeira foi o fato de Daniel Alves ter comido a banana. Muitas pessoas criticaram de forma negativa, outros acharam o máximo. Eu, particularmente, gostei. Gostei porque aquela situação, por mais que reflita coletivamente, foi individual e ele resolveu, porque foi atingindo diretamente a ele, da forma que mais lhe pareceu sensata no momento. Isso significa que é para comermos todas as bananas racistas que nos são lançadas? Não, óbvio! Mas naquele momento o "comer a banana" foi a melhor resposta que ele deu do lugar dele e por ele. Ponto.
A segunda situação foi Neymar lançar a campanha somostodosmacacos, a qual a mídia divulgou como sendo produto de uma agência publicitária. Isso já não é uma atitude individual. Ele, além de não ter sido a vítima diretamente, atingiu exponencialmente o coletivo com sua campanha, atingiu todos os negros. Ademais de não ter propriedade para falar em nosso nome, uma vez que não se vê como negro e nem ocupa, ideologicamente, a posição de um, em nenhum aspecto. Ele assumiu um lugar que é institucional, que institucionaliza ideologias. Mas se você sair perguntando por aí qual negro quer ser chamado de macaco, quantos vão dizer que sim? E dizer que somos todos macacos não é verdade, não somos. Ivete não é macaca, Angélica, Luciano Huck etc, tampouco são macacos. Eles são brancos, nunca serão visto como macacos. Ser chamado de macaco está ligado ideologicamente a fatos históricos, marcados pela raça, que tinham como advento situar o local de inferioridade do povo negro. É lógico que não vou dizer que não pode haver solidariedade por parte dos "publicitários da igualdade", mas há que se tomar muito cuidado. Talvez tenha havido uma tentativa de ressignificação da palavra, como se tentou fazer com #somostodasvadias, mas ainda assim, por mais que centenas de mulheres escrevam em cartazes, pelo corpo e levantem essa bandeira, na prática mulher nenhuma quer ser chamada de vadia nas ruas ou em circunstâncias que marquem um local de subalternidade.
A campanha, diferente da atitude de Daniel Alves, funcionou como um desserviço social, uma vez que pode reforçar os estereótipos negativos e os equívocos ideológicos. O que se pode contar de positivo é o fato de colocar em discussão a questão do racismo.
Para além de solidariedade inconsciente, precisamos falar por nós mesmos e em primeira pessoa e do nosso lugar, lugar de negros que somos.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

SOU PRECONCEITUOSA RACIAL. GRAÇAS A DEUS...


Sou preconceituosa racial. Graças a Deus assumo essa minha condição social (mentira minha, Deus não tem nada a ver com isso). Isso mesmo, racismo é uma condição, deixar de construí-lo é um exercício cotidiano e doloroso, é você sair do seu lugar, se descentralizar e perceber-se parte de uma sociedade tirana que não se faz só, se faz com nós e a partir de nós. O racismo só será superado quando, antes de tudo, ele for assumido por cada indivíduo e em posse disso decidir que é hora de transcender essa estrutura cristalizada e viral.
Eu sou negra e decidida a não ser, a não ser racista. Mas sou traída por uma educação que deu certo. Desde pequena eu ouvi: “é negro? É ladrão, é bandido, é aproveitador, é cafajeste, é a escória social!”; “é negro? Está numa rua deserta? Atravesse! Ele vai te assaltar”; “é negra? É mulher fácil, é feia, não é para casar, é aproveitadora!”.  Proclamação em menor escala, pois poderia citar exemplos piores que minha audição vem registrando. 
Eu não sou diferente, gente. Eu não sou superior. Mas me orgulho de assumir meus fracassos diante disso. Sempre fui otimista e até costumo dizer que a maioria das pessoas racistas que eu conheço não é assim porque gosta, porque é má, porque é bom. Elas o são porque mais de 500 anos de “civilização” escravocrata engessa mentes, engessa gentes. O racista “fudido” é aquele que sabe de sua condição de racista e nega o discurso, nega o posicionamento. Assume a inércia. Eu não tenho vergonha de assumir para mudar, para transcender, para transgredir.  Por isso vou contar um causo que ocorreu ontem comigo - mulher negra.
Fui assistir, pela terceira vez, ao Espetáculo Cabaré da RRRaça do Bando de Teatro Olodum, cheguei cedo, queria sentar em um lugar privilegiado, pois um amigo querido atua nessa temporada. Antes de ir ao Café do Teatro, havia um homem, que libera a entrada do público, na porta que dá acesso à sala principal, ele estava de camisa preta com o nome do teatro atrás, calça jeans e tênis. A maioria da equipe de apoio do Vila Velha é negra. Ok. Quando retornei, ele não estava mais lá, desci, fui à bilheteria checar se havia mais ingressos e ao retornar, havia na entrada outro homem, agora de frente, também negro, de blusa preta, de jeans e tênis. Eu nem refleti, nem pensei:
-Que horas vocês vão liberar a entrada?
-Oh desculpe, eu não faço parte de nada não!
-Desculpe...
Fiquei arrasada, demasiadamente arrasada. Chorosa até. Como é que eu ia entrar agora para assistir à peça? Eu fiz o que sempre fizeram comigo, confundi o homem que ia assistir à peça com o segurança. No meu caso confundiam com a empregada doméstica ou com a mulher disponível.  Ainda confundem.
Desabafando com amigos, a maioria disse: “Zane, calma! Você não tinha como prever.” Ok. Realmente, não sei se teria. Mas eu assumo que se fosse um homem branco, de camisa preta, de calça jeans e de tênis, eu não o teria confundido, quase certa que não.
O rapaz me desculpou, ele viu meu olhar de fracasso, de desespero. Mas eu não me perdoo, ainda não consigo.
Relato esse fato para mostrar às pessoas que eu, mulher negra, que luta e enluta contra o racismo ferrenhamente, fui traída por uma educação que deu certo. Mas assumo, por acreditar que é isso que me faz acordar todo dia e decidir não ser racista e, talvez assim, estimular que muitas pessoas acordem, também, todos os dias com esse mesmo propósito social. Enfiar uma faca no racismo a fim de mata-lo é uma DECISÃO que muitos não estão dispostos, com isso, ver o sangue brotar...

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Canção para quando João vier....

Era um daqueles dias que chegava ao fim e eu só pensava na minha casa, e dentro dela havia o sorriso mais lindo do mundo, mais encantador, mais contagiante. Dirigi por cerca de 1 hora, normalmente eu faria aquele percurso em 15 minutos, mas devido a engarrafamentos meu tempo se tornou largo, extenso e morria de saudade daquele sorriso, daqueles dentinhos pequeninos e cheios de manhas. Ainda não havia me acostumado passar o dia todo longe dele, 3 anos já haviam se passado, mas mesmo assim todas as manhãs quando ele dizia:
-Tchau mami, bom dia!
Meu coração se derretia, ficava em caquinhos. A verdade é que ele nunca sofreu muito, sempre foi muito auto-suficiente, nas primeiras semanas de trabalho, lembro que ele questionava o porque de eu ter que sair de casa e ele não poder ir comigo, e logo que expliquei a importância de trabalhar para a mami dele, ele assentiu com a cabeça, deu mais um sorriso lindo e disse que ia sentir saudade. 
Assim que estacionei o carro do lado de fora da casa, eu ouvi os latidos dos meus cachorros, logo em seguida os gritos mais estridentes que podem existir.
-maaaaaaaami, maaaaaami chegou, mami chegou....
Corri, o peguei no colo, beijei seu rosto até ele não suportar mais tanto amor e carinho meu. Pediu que o colocasse no chão e fechasse os olhos, que ele tinha uma surpresa para me mostrar:
-mami vem comigo..
Eu fui imaginando milhões de coisas, pois todo dia era a mesma história, ou era um desenho nosso, ou uma arte mais moderna, massinhas coloridas, algo que sempre me enchia de orgulho e de amor.
Quando ele pediu que eu abrisse os olhos, inicialmente eu não entendi, mas ele vendo minha cara de desentendimento pediu-me que olhasse melhor a televisão, se eu não percebia o quanto ela "brilhava", e eu nada.
Até que ele disse com aquele sorriso que me desajustava toda:
-Eu dei banho nela mami, com sabão e tudo, ela está novinha em folha de novo.
Eu entrei em pânico. Nossa televisão de última geração, que só ele usava para ver os desenhos.
- Oh filhote, você lavou mesmo, hein?! Só tem uma coisa que mami precisa explicar para você, a tv não toma banho, quando damos banho nela, ela não liga mais. Vamos combinar uma coisa? Da próxima vez que você for dar banho em alguma coisa, primeiro vai me dizer e eu vou dizer se pode, combinado? Mas nada que liga na tomada toma banho, está bem?
-É mami? que bom, amanhã eu já ia dar banho no computador, não dei hoje porque já estava cansado demais já...

domingo, 26 de maio de 2013

O Brasil esfaqueando a maioridade penal...


A discussão da vez é sobre maioridade penal. Cogita-se a possibilidade, nada remota, de diminuir para 16 anos de idade a maioridade penal. Que mude para 16, 14, 12, 10 anos. Que diferença faz? Para mim não faz nenhuma, porque a discussão não deveria ser essa. Discutir isso é raso, superficial e não resolve de fato o problema que nós temos. Se a decisão de mudar a lei é baseada no fato de ter indivíduos de 16 anos cometendo crimes, não faz diferença aplicar essa mesma lei em outros de 14, 12 e até 10 anos que cometem esses mesmos crimes. E esqueçamos de estatuto da criança e do adolescente, dos direitos humanos, das políticas públicas e da justiça. Justiça? Falar desse nome no Brasil é uma tentativa enfadonha de procurar aquilo que nunca será encontrado.
Por que em vez de diminuir a maioridade penal, o estado não diminui sua hipocrisia, massacre, criminalidade, desonestidade, negligência e crueldade? Porque mudar um artigo na Lei é bem mais fácil. Difícil é mudar a forma como esse país vem sendo construído, difícil é reconhecer que se tem tanto jovem envolvido em criminalidade, minimamente não é porque é gostoso ser bandido, tem algo fora do lugar nessa questão e que eles deveriam buscar as respostas, nos dar respostas. Besteira minha, não é? O país precisa existir, precisa existir culpados, inocentes, bem, mal e uma comodidade mórbida. Besteira minha achar que pode haver coerência entre vantagens e necessidades.
Há ainda outro fator muito relevante. Nós sabemos que nossa sistema penitenciário forma mestres e doutores em bandidagem, em falta de humanidade. Um jovem que entra para a cadeia porque colocou uma faca no pescoço de alguém em um assalto para sustentar seu crack, sai dela esfaqueando tudo e todos. Esfaqueia a justiça, a ética, as pessoas, mas antes foi esfaqueado pela sociedade, pelo sistema, pelo estado. Não tenho interesse em defender jovens criminosos, mas antes de tomar qualquer decisão que implique numa mudança tão crucial, quero pensar nas consequências que isso poderá nos trazer. Eu falo "nos" por afetar diretamente a mim. 
Se vivêssemos em um país onde educação, saúde e segurança fossem prioridade talvez agora não tivéssemos o trabalho de mudar o numerosinho 18 para 16. Mas colocar uma venda nos olhos e um sorriso no rosto sempre foi o caminho percorrido por quem acredita que justiça se constrói da noite para o dia.
Enfim, caso essa nova constituição entre em vigor, para quem ela terá valor mesmo, hein? É bom pensar...